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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

A mulata azul

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publicado em 01/11/2022 às 07h00
atualizado em 01/11/2022 às 18h00

Daqui a três anos, 125 anos do pintor Di Cavalcanti.

Esses dias, andei lendo textos de Elizabeth Di Cavalcanti, sobre seu pai. Ele era filho único, mas aproveitou muito a vida, entre Rio de Janeiro, Paris e alhures.

A Mulata Azul, dos anos 40, (de colecionador) me cativou muito, a luz neon que vem seus seios… quer dizer cativar é prender, mas com a licença de Exupery, não foi bem isso que eu quis dizer, mas disse, está dito. A Mulata Azul é linda.

Di Cavalcanti era comunista e foi preso algumas vezes. Grandes homens foram presos por pequenos homens.

Olho a mulata como se já não houvesse tempo para contemplar os milagres eróticos, ela está nua, destacada entre as milhares de obras das fugas rimbaudianas de Di, um homem sedento pela liberdade da arte, da sua vida e de fazer mais, de sonhar sem parar.

Numa visão ácida do mundo, numa visão que não equacionasse o vazio, Di Cavalcanti pintou contra os franquistas, nazistas e fascistas.

O humano em Di é o que comove sua arte, pois, nada se demove. Estão nas telas estivadores, pescadores (da Praia Maria Angu), operários do cais do porto, os massificados pelo trabalho. A Feira de São Cristovão no Rio, é um destaque.

Sem abrir mão de sua liberdade, Di pintou o que quis.

Há mulatas por todo lado, a azul é única, onde quer que respire, dentro dos próprios frutos femininos, os seios mais belos, faróis, sobre o corpo visceral.

Di pintou aquilo que nos pertence, o gozo, o prazer, a igualdade, tudo que sonhamos e vamos realizando, pouco ou muito, nos braços da mulata de Di.

A mulata é quase um espelho, quase a razão, quase a loucura.

A obra de Di Cavalcanti, assim como a fotografia de Sebastião Salgado, representam uma grande alegria brasileira.

Kapetadas

1 – Grandes ignorantes são uma bênção: eles concentram toda a ignorância que caberia a várias pessoas.

2 – “Até amanhã”. Nunca um simples cumprimento abarcou tanta incerteza.

3 – Som na Caixa – “Olha, essa mulata quando dança, é luxo só”,  Ary Barrozo.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB