João Pessoa, 06 de novembro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
De noite eu não rondo mais a cidade, a te procurar. A palavra exata não seria encontrar, já que eu não gosto mais de carnaval. Quem nunca rondou a cidade, quem nunca viu a madrugada, quem nunca tirou sua virgindade, não sabe que o gozo é o alimento da almas.
Para voltar a rondar a cidade, teria que desobedecer a um registo de perder, para me encontrar ou te encontrar. Nada mais belo do que o levantar a saia e, se saia eu tivesse, de alçar a perna como fazem os cães, mas a cidade está cheia de câmaras.
Não mande o tempo à merda, se você rondou a cidade a me procurar sem encontrar, estou dormindo e não tomo remédio, eu espero a hora chegar.
Quem virá me socorrer (?) se algo decepar meu sonho de menino se depois do amor, depois do amor, é só chorar, só chorar.
Com o vigor da idade sei que posso ir bem mais, porque nenhuma artilharia poderá deter a vontade, se eu ainda quiser rondar a cidade, a te procurar.
Quando eu era jovem voltava dos bares de Tambaú a pé, porque naquele cenário, o meu automóvel era meu pé de Jacarandá. Numa madrugada, eu vi Januária na janela, mas toda gente ainda dormia e só eu a homenageava. De noite eu não rondo mais a cidade, sequer para ouvir alguém cantar o compositor Paulo Vanzolini (foto)
O combate do amor sereno, na rua, na chuva, na moenda, talvez por isso, não há sex appeal, o sexo é sutil, mais dentro, mais por dentro, de um homem que não ronda mais a cidade. Sem a música eu seria um homem infeliz.
Fases do tempo, fases de conta, contas e pontas de areia, travessia e o belo Milton Nascimento com 80 anos, sentado com a sanfona, o instrumento inicial.
Já não tenho mais saudade de mim. Conto o conto sem aumentar o ponto, da cor que azuleja o dia e quando o céu está chumbo, apesar dos pesares, inspira-me a vontade de rondar a cidade, só pra ver o meu bem passar.
E não quero mais que isso, saber muito menos do que isto, porque quem sabe menos das coisas, sabe muito mais que o Roberto.
Estou de volta ao teu aconchego, como na marcha dos relógios.
Tudo, menos o palpite, a reclamação. Tudo, menos a vontade de sair para rondar a cidade, mas eu vou.
É tudo ou nada, Bandeira não dar bandeira, Borges é o melhor. Eu pulso, nunca a pulso, para sacudir o meu casaco de general.
Os dias passam e a gente morre nos sinais fechados, sem prognósticos, vivendo apenas para casa & comida. Melhor esperar a madrugada, e que ela venha com o cortejo do aroma do jasmim da nossa casa, e que não seja por isso, mas por aquilo que eu insisto em de noite, rondar a cidade.
Kapetadas
1 – Virgindade é uma coisa que dá e passa
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OPINIÃO - 22/11/2024