João Pessoa, 14 de novembro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Eis aí um oxímoro perfeito: cristão comunista. Comunismo e Cristianismo se excluem. O Comunismo, por mais que alguns queiram dourar a sua pílula, tem como base a luta de classes. A não ser que Marx tenha sido revogado da sua essência e alguém esteja fundando o seu Comunismo próprio. Aí, nesse caso, essa mente brilhante terá que escrever uma obra que, pelo menos, empate com O Capital. De outro modo será achismo e achistas são os maiores frequentadores do feicibúqui. O Cristianismo tem como essência o Amor. Foi para isto que Cristo veio.
Vamos só contextualizar um pouco. Cristo nasce num momento histórico e numa região em que dois poderes se rivalizam: o poder da religião judaica, de base mosaica, e o poder de Roma. A religião judaica de base mosaica praticava punições cruéis – apedrejavam-se adúlteras até a morte –, praticava discriminação, pois acreditava que um judeu era melhor do que um samaritano, e pregava o separatismo, vez que, dentro do poderoso Sinédrio, um Fariseu (a palavra, segundo o Dictionnaire Encyclopédique du Judaïsme, vem de uma raiz que significa “estar separado”, “colocado de lado”) sentia-se mais considerado do que um Saduceu.
O poder de Roma não tinha a complexidade das lutas de facções entre os judeus. Nem por isto era menos forte. Roma baseava o seu poder na força e na disciplina. Uma coisa alimentava a outra. O sentido de piedade e de misericórdia não existia para um romano. Existia a virtus, a força guerreira e a total ausência de misericórdia em relação ao adversário, ao inimigo, que devia ser submetido a todo o custo. Roma não estava preocupada em ser amada, mas em ser temida. E fazia valer o “que me odeiem, contanto que me temam”. Os judeus de Jerusalém e de Massada, em 70 d. C., sabiam disso como ninguém. Aos que não sabiam Vespasiano e Tito ensinaram…
É dentro desse contexto que nasce Cristo. E sua missão foi a de pregar o Amor. Mas não era simplesmente a pregação do palavrório. A prática tem que se converter em ação contínua, ou como adoram alguns, em práxis, palavra grega que guarda em si, por causa do sufixo –sis, a ideia do infectum, de uma ação em processo. Cristo transforma a Sua palavra em prática constante, não tendo nada, não possuindo nada, não querendo qualquer bem material, nem querendo a luta, pois quem ferisse pela espada, pela espada pereceria. Estava do lado dos mais necessitados, seja quem fosse, uma adúltera ou um Centurião romano, não pela afirmação, mas pela ação. Seu reino não era o do todo poderoso César Augusto, sob quem nasceu, nem o de César Tibério, sob quem sua carne pereceu. Seu reino era o de Deus, intemporal, eterno. Os Césares passaram, são só curiosidade histórica. Cristo permanece. Nem a poderosa Roma foi capaz de fazê-lo desaparecer. Cristo permanece porque é Amor. E não me consta que esta lei foi revogada. Continua valendo, porque é única que pode transformar o mundo. Desde que cada um se transforme interiormente.
Se afirmo que quem compara o pensamento de comunistas ao de cristãos está errado é porque ou se trata de cristãos que não compreenderam o que Cristo ensinou ou se trata de outro comunismo diferente daquele que nós conhecemos, cujo intento é tomar o poder para continuar explorando as massas, não para libertá-las.
Mesmo que tenha sido o papa o autor de tal declaração, lembro que os papas já não são infalíveis. Lutero tinha mais do que razão. E não devo aceitar o que papa disse só porque é o papa. Posso pensar por mim mesmo. E se sou Cristão, mesmo que não me sujeite a qualquer Igreja institucionalizada, procuro seguir a Lei de Cristo. Posso não fazer todo o bem que quero e ainda fazer um mal que não desejo, como diria Paulo, mas entendo que só Amor é que poderá nos levar à igualdade e à justiça. Não a luta de classes, que parte de uma divisão e a aprofunda cada vez mais.
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TURISMO - 19/12/2024