João Pessoa, 15 de novembro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O primeiro disco, o primeiro amor, o primeiro show. À primeira vista, a primeira transa, o primeiro beijo, o primeiro ônibus, a primeira carona, a primeira vez, a primeira decepção. Espere por mim morena…
Caras & Bocas.
Quando não passei no 1º vestibular, me vi em apuros, teria que voltar para o sertão ou então, me virar, pois já não tinha mais a mesada. Não arredei o pé do litoral. Já era um homem livre. Fui morar na casa da prima Rosa, em Tambauzinho, mas para isso tive que fazer trabalhos domésticos.
Meu primo Paulo, só ouvia rock e eu nunca gostei de rock, não tinha ouvidos, principalmente, as bandas que ele escutava: Black Sabbath, Led Zeppelin e outras pauleiras, que nem me lembro.
Nesse tempo, eu já tinha alguns vinis. Uns de Gal Costa, Caetano, Gil e Betânhia – pouquíssimos, pois, juntava grana de bicos para comprar o da vez. Eu não tinha onde escutar, a radiola portátil tinha ficado no sertão e só quando meu primo ia para universidade pela manhã, eu escutava os velhos baianos. Passava as tardes estudando para tentar outro vestibular.
Meu primo mangava de mim, de boa, dizendo que eu gostava das Simone da Vida, Gal & bocas. Eu não ligava. Eu já amava Gal e sabia que ele não tinha cabeça para entender que ela era da maior importância.
O primeiro LP que comprei da artista foi em 1977 Caras & Bocas, na Eletropeças, da Gal. Osório. Aquele que tem várias fotos dela fazendo caras e bocas – a capa de Aldo Luiz e as fotos de
Marisa Alvarez Lima.
Gal Costa foi mais que uma cantora de um determinado país chamado Brasil.
A juventude se rasgava por Gal, que era um grande acontecimento a aparição daquela pessoa, bonita, ousada, sensual (Gal chegou a posar nua para uma revista, acho que eu ainda tenho)
Eu ouvia Caras e Bocas e viajava… Decorava as canções e ficava cantando sozinho pelos corredores do antigo DAC da UFPB. As pessoas diziam que eu era doido, mas sempre falei SOZINHO e isso não tem nada a ver com loucura, que quando é pouca, é bobagem.
Eu sempre gostei desse disco, mas a canção ‘Um favor” de Lupicínio Rodrigues mexe comigo até hoje – até Jamelão gravou
“Eu hoje acordei pensando/Por que é que eu vivo chorando/Podendo lhe procurar/Se a lágrima é tão maldita/Que a pessoa mais bonita/Cobre o rosto pra chorar”.
Gal intimista, intensa, divina e maravilhosa, Gal. Sua voz, sua música desenha a tradução perfeita de uma mulher que se pôs a seguir a vida como cantora do Brasil: É lindo ela cantando “Tigresa” nesse disco – “Esfregando a pele de ouro marrom/Do seu icorpo contra o meu/ Me falou que o mal é bom e o bem cruel”
“Minha cara invade a cena
Rasga a vida
Mostra o brilho
Agudo musical”
Caras e Bocas (Caetano Veloso – Maria Bethânia), 2 Me Recuso (Rita Lee – Luís Sérgio – Lee Marcucci), 3 Louca Me Chamam (Crazy He Call’s Me) (Carl Sigman – Bob Russel – versão Augusto de Campos), 4 Clariô (Péricles Cavalcanti), 5 Minha Estrela É do Oriente (Tindoró Dindinha) (Jorge Ben), 6 Tigresa (Caetano Veloso), 7 Negro Amor (It’s All Over Now, Baby Blue) (Bob Dylan – versão Caetano Veloso – Péricles Cavalcanti), 8 Meu Doce Amor (Marina – Duda Machado), 9 Solitude (Duke Ellington – Eddie de Lange – Irving Mills – versão Augusto de Campos), 10 Um Favor (Lupicínio Rodrigues)
Qualquer gesto de amor, me anima. Qualquer maneira de amar, valerá.
Eu amo tudo quanto flui. Eu amava Gal.
PS – Encerro aqui a trilogia que fiz para Gal. Mas posso voltar.
Kapetadas
1 – A vida é mais doida do que nós.
2 – O diferencial do Brasil é que a estupidez está ao alcance de todos.
3 – Som na caixa: “Sua estupidez não lhe deixa ver/Que eu te amo”, de Roberto e Erasmo
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OPINIÃO - 22/11/2024