João Pessoa, 18 de novembro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O mercado é o conjunto coisificado dos agentes econômicos engendrado pela coisa mais despudorada do mundo: usura. Diga o que quiser, mas nunca se viu esse desalmado verter lágrimas pelos moradores de rua, pelas crianças que passam fome, esses desconhecidos que ele tem nojo e repulsa.
O mercado é uma entidade invisível, entendido apenas por especialistas em números complexos ou irreais, logaritmos coloridos, raiz quadrada de menos dois, triângulos de quatro pontas e, claro, admirado por pessoas que adoram doce de jiló enquanto apostam na bolsa de valores.
O mercado tem milhares de mãos que se espraiam por todas as esferas sociais. Seus gráficos são assépticos como os banheiros dos restaurantes chiques; anárquicos como os seus aclives e declives, cheios de promessas fantasmagóricas, a coisa mais admirada do mundo para os homens sem compaixão.
O mercado é nervoso e morre de medo de humanidade, essa fraqueza de gente sensível que tem o coração mole, que gosta de música de Chico Buarque e vive fazendo passeata por justiça social, gritando palavras de ordem contra o desmatamento da Amazônia.
Se for preciso salvar o sistema, o mercado vira a casaca: mata as pessoas de fome, toma-lhes as moradias, penhora-lhes a dignidade, toca fogo nas florestas, polui rios, amedronta os oceanos, estoura o teto do gasto público em 800 bilhões de reais, desde que na plenitude da campanha eleitoral para beneficiar protegido seu.
O mercado só enxerga dinheiro porque só assim ele reduz a complexidade do mundo, tudo convertido ao vil metal. Ele é tão inteligente que inventou uma maneira de ganhar muita grana sem derramar um pingo de suor, claro, às custas do suor dos outros. Ele é frio como o nada. Um horror!
O mercado é a mais globalizada das comunicações globalizadas. Em questões de segundos, pode destruir um país, jogando na miséria seu povo, embora diga que é tão imprescindível para a humanidade como o velho da Havan diz que o é para a liberdade.
O mercado odeia eleições. Se pudesse, substituiria o povo por um polvo chamado estabilidade fiscal, nem que esse bicho financiasse algum golpe de Estado. O mercado usa a si mesmo como mantra: ele é o rei, construtor das verdades absolutas, um fanático.
Cuidado com o mercado, ele é lindo, um boto cor de rosa de pau duro e voz maviosa, mas quando irritado, mostra os dentes, rincha, bufa, mas não chora. Chorar é coisa de humanos e o mercado é desumano e os humanos acham isso a coisa mais natural do mundo.
Dizem que essa forma de ser assim é inteligência financeira, necessidade da lógica real e evolutiva, um jogo vital, cultural e global, que sem o mercado, a fome seria bem maior, o progresso não teria existido, mas, puta que pariu, ele não poderia continuar sendo esse putão, mas chorar pelo menos uma vez quando enxergasse uma criança comendo lixo?
Deus do céu! Que o mercado não leia isso. Se positivo, me come vivo! Ah, perdoe-me boto cor de rosa. Você é uma gracinha.
professorcicoleite
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TURISMO - 19/12/2024