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Herdou a pequena firma de seu pai e decidiu que era o momento de implantar modificações, modernizando conceitos; ser uma empresa mais dinâmica, com compromissos sociais, inclusiva. Para tanto, o primeiro passo era renovar a composição do quado de trabalhadores. Sim, porque observou que ali não tinha nenhum trabalhador com deficiência, muito menos mão de obra da terceira idade. Poderia dar uma oportunidade para essas pessoas. Chamou ao seu gabinete a gerente de recursos humanos e deliberou:
– Temos uma vaga para serviços gerais. Quero que você selecione pessoas na terceira idade. Sim, aquelas com mais de sessenta anos.
Num misto de espanto e curiosidade – vez que seu antigo chefe, para essa função, só admitia gente jovem – indagou:
– Nesse caso, o candidato precisa ter bastante experiência?
– Não precisa, para as tarefas que lhe serão conferidas, a vida já ensinou.
Publicado o anúncio da vaga, os interessados no emprego começaram a se apresentar. Após a sabatina de perguntas nas entrevistas, por fim foi escolhido um pretendente. Tinha sessenta e cinco anos e atendia pelo nome de Bartolomeu. Bart, ao seu dispor, como sempre repetia. É mais simples. Meu pai gostava de nomes diferentes, justificou.
Primeiro dia de trabalho lhe foram entregues vários envelopes para postagem nos Correios; Segundo dia, um documento para levar pessoalmente a um fornecedor da empresa; terceiro dia lhe disseram para cobrir a portaria, já que a atendente faltara. Ele opôs negaça a essa tarefa, alegando não levar jeito.
Intrigado com a falta de respostas às cartas enviadas para clientes e fornecedores, o dono da empresa questionou o chefe imediato de Bart, que por sua vez, buscou informações com o auxiliar de serviços gerais:
– Senhor Bartolomeu, aquelas cartas foram postadas no Correio no mesmo dia?
– Não as levei, estava indisposto.
– Indisposto!? O Senhor não para de andar pela empresa e não larga esse livro! O patrão não vai gostar de saber disso.
Chamado a sala do patrão para suas justificativas, sobretudo pelo descaso com suas obrigações, disse que ultimamente andava sem vontade de cumprir ordens. Enquanto falava, sobraçava um livro, comprimindo-o contra o peito.
– Soube também que o senhor não larga esse livro. Deixe-me me ver, por favor.
Entregou o livro ao patrão que, após ler o título “Bartleby, o escrevente”, de Herman Melville, (foto) franziu o cenho e determinou:
– Peça demissão, agora.
E Bart, retomando o livro das mãos do patrão, retorquiu:
– Eu me recuso!
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TURISMO - 19/12/2024