João Pessoa, 30 de novembro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Uma ilha chamada livro, de Heloísa Seixas, com o seguinte subtítulo: “Contos mínimos: sobre ler, escrever e contar”. Acabo de concluir a leitura, mas tenho certeza de que vou relê-lo nos dias e nas noites que me restam. Não é assim com certos livros? Deles não nos afastamos mais, pois passam a integrar aquela biblioteca pessoal e subjetiva a que sempre frequentamos, movidos pelo secreto prazer de conviver com coisas, situações e criaturas essenciais.
No caso desse opúsculo que me tocou a sensibilidade, tudo gira em torno do livro e seus mágicos derivados. Nos breves enredos que trazem a experiência do ler, escrever e contar, em instâncias variadas, porém, tocadas por um halo poético e misterioso, é possível achar de um tudo na geografia encantada das linhas e das letras.
Penso naquele personagem que procura os livros queridos da infância; num outro que se surpreende com o livro desejado, perdido em meio à poeira de um velho sebo; neste que ama os livros usados, marcados por anotações manuscritas de leitores desconhecidos; naquele que os aprecia pelo gosto das epígrafes ou das dedicatórias, enfim, nos que os admiram pela beleza das ilustrações, pela raridade das edições, pela elegância do formato, pelo inusitado do conteúdo, pela paixão pelo autor, entre tantas atrações que mobilizam o imaginário de um leitor ou a volúpia de um bibliófilo.
Sim, vou relê-lo, e já o coloquei entre seus irmãos na estante chamada “Livros”, indiferente aos dispositivos técnicos da ordem catalográfica e dos princípios científicos da biblioteconomia. A temática – o próprio livro, uma ilha solitária, todavia com rica humanidade -, o aproxima de seus pares não ficcionais e não poéticos, precisamente porque o amor, que move o sol e as outras estrelas, como diria Dante, é o fermento dessa organização livresca que proporciona felicidade e sabedoria.
De certa maneira, este livro. De poucas páginas, de textos curtos, meio conto e meio crônica, intensifica a experiência da leitura e nos convida à visitação do reino maravilhoso da poesia. Nele, o ler, o escrever e o contar estratificam a força da palavra literária, ativando os chamados da memória e cultivando os mapas da imaginação.
Nada o impede, portanto, de avizinhar-se, no sacrário da estante especial, – a dos livros – de títulos, como: Uma vida entre livros, de José Mindlin; Os livros, nossos amigos, de Eduardo Frieiro; O homem que amava muito os livros, de Allinson Hoover Barltlett; Fantasmas na biblioteca: a arte de viver entre livros, de Jacques Bonnet; O aprendiz de bibliófilo, de Rubens Borba de Moraes; Balcão de livraria, de Herbert Caro; O amor às bibliotecas, de Jean Marie Goulemot, e Como falar dos livros que não lemos, de Pierre Bayard, entre tantos outros que enriquecem meu acervo pessoal.
Charles Nodier, o grande bibliófilo francês, costumava dizer que “depois do prazer de possuir livros, não há outro mais grato que o de falar deles”. Há, sim, o de lê-los, sobretudo quando os livros nos comovem, como é o caso deste Uma ilha chamada livros.
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OPINIÃO - 22/11/2024