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Jornalista, cronista, diácono na Arquidiocese da Paraíba, integra o IHGP, a Academia Cabedelense de Letras e Artes Litorânea, API e União Brasileira de Escritores-Paraíba, tem vários publicados.

Quem sabe faz  a hora acontecer  

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publicado em 07/12/2022 às 07h00
atualizado em 06/12/2022 às 17h04

         “Há um descontentamento do povo brasileiro pela política. A política   não é uma coisa maléfica”. Dom Marcelo Pinto Carvalheiro pronunciou estas palavras durante palestra sobre fé e política, por ocasião das comemorações dos 500 anos do Brasil, na Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, para uma seleta plateia, em momento quando o País patinava sobre lamaçal.

         Na ocasião, como profeta da solidariedade e da ternura, ele proclamava a necessidade de resgatar o interesse e o encantamento do povo pela política, que estava, à época, com o prestígio bastante abalado, num acumulado de décadas de desmantelo.

         Mais de duas décadas depois, se aconteceram melhorias, muitas coisas ainda precisam avançar na perspectiva de recuperar a qualidade de vida das pessoas. Não basta ter um celular à mão e usar os avançados instrumentos de transferência numerárias para qualquer parte do mundo, colocando a pessoa em outro patamar, mas esse patamar se concretiza quando ninguém viver com fome, ter onde recostar a cabeça, poder acessar à cultura e ao lazer.

         As instituições políticas definham, ganham contornos preocupantes. Os políticos modernizam as atitudes do coronelismo, e com esses gestos causam ranhuras na dignidade da pessoa humana quando lhe tira o pão.

         O arcebispo emérito da Paraíba, o bondoso Dom Marcelo, de quem recolhi importantes lições, carregava consigo o desejo de que políticos comprometidos com a fé cristã ajudassem a resgatar a esperança do povo. Seu projeto pouco prosperou, mas plantou sementes de boa germinação, no entanto precisa de águo para brotar no terreno inóspito de nosso coração. Ele ensinou a nunca desistir dos sonhos.

         O que se viu nos primeiros anos do milênio – já são mais de duas décadas passadas -, é que pouco coisa avançou na esfera da atividade política, o que desacreditou ainda mais o sistema e a forma de governo. O jogo de interesses é cada vez maior e em escala crescente.

Talvez nos tornamos mais brutalizados no trato dos relacionamentos humanos.

Os caminhos têm sido tortuosos para o povo. O pobre cada vez mais de panela vazia. Amedrontado e com fome, recolhe-se ao seu espojador.

Os agentes políticos deveriam pavimentar com solidariedade, compaixão e beleza a sociedade degradada, como queria o profeta da esperança Celso Furtado, ao propor mudanças sociotransformadoras, sempre a olhar o futuro, como também desejava o monge beneditino Dom Marcelo e outros agentes da paz de iguais ideais.

Ao pensamento destes dois grandes nordestinos, junta-se uma reflexão do pensador católico Rubens Ricúpero, ao apontar três caminhos para nosso país acertar: fortalecimento das instituições políticas, educação de qualidade e pôr fim a impunidade. Difícil de conquistá-las, mas não impossível. Porque tudo “podemos naquele que nos fortalece”, como dizia o Apóstolo Paulo.

Não seria demais para aqueles que desejam exercer atividade política passar por momentos de formação, a exemplo de outra profissão. Elegemos tantas nulidades que decidem por nós.

A política é uma atividade nobre, e tem suas exigências. Dela originam-se as leis para organizar a vida da sociedade, nossos ganhos, e também nossas perdas. Quem sabe, temas como administração pública, economia, ética, moral, filosofia e religião seriam o alicerce de uma sociedade justa e fraterna, como sonhavam Dom Marcelo, Celso Furtado e Rubens Ricúpero.

Sonhar ainda é possível. Sonhar porque, “quem sabe faz a hora acontecer”.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB