João Pessoa, 07 de dezembro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
“Há um descontentamento do povo brasileiro pela política. A política não é uma coisa maléfica”. Dom Marcelo Pinto Carvalheiro pronunciou estas palavras durante palestra sobre fé e política, por ocasião das comemorações dos 500 anos do Brasil, na Fundação Joaquim Nabuco, em Recife, para uma seleta plateia, em momento quando o País patinava sobre lamaçal.
Na ocasião, como profeta da solidariedade e da ternura, ele proclamava a necessidade de resgatar o interesse e o encantamento do povo pela política, que estava, à época, com o prestígio bastante abalado, num acumulado de décadas de desmantelo.
Mais de duas décadas depois, se aconteceram melhorias, muitas coisas ainda precisam avançar na perspectiva de recuperar a qualidade de vida das pessoas. Não basta ter um celular à mão e usar os avançados instrumentos de transferência numerárias para qualquer parte do mundo, colocando a pessoa em outro patamar, mas esse patamar se concretiza quando ninguém viver com fome, ter onde recostar a cabeça, poder acessar à cultura e ao lazer.
As instituições políticas definham, ganham contornos preocupantes. Os políticos modernizam as atitudes do coronelismo, e com esses gestos causam ranhuras na dignidade da pessoa humana quando lhe tira o pão.
O arcebispo emérito da Paraíba, o bondoso Dom Marcelo, de quem recolhi importantes lições, carregava consigo o desejo de que políticos comprometidos com a fé cristã ajudassem a resgatar a esperança do povo. Seu projeto pouco prosperou, mas plantou sementes de boa germinação, no entanto precisa de águo para brotar no terreno inóspito de nosso coração. Ele ensinou a nunca desistir dos sonhos.
O que se viu nos primeiros anos do milênio – já são mais de duas décadas passadas -, é que pouco coisa avançou na esfera da atividade política, o que desacreditou ainda mais o sistema e a forma de governo. O jogo de interesses é cada vez maior e em escala crescente.
Talvez nos tornamos mais brutalizados no trato dos relacionamentos humanos.
Os caminhos têm sido tortuosos para o povo. O pobre cada vez mais de panela vazia. Amedrontado e com fome, recolhe-se ao seu espojador.
Os agentes políticos deveriam pavimentar com solidariedade, compaixão e beleza a sociedade degradada, como queria o profeta da esperança Celso Furtado, ao propor mudanças sociotransformadoras, sempre a olhar o futuro, como também desejava o monge beneditino Dom Marcelo e outros agentes da paz de iguais ideais.
Ao pensamento destes dois grandes nordestinos, junta-se uma reflexão do pensador católico Rubens Ricúpero, ao apontar três caminhos para nosso país acertar: fortalecimento das instituições políticas, educação de qualidade e pôr fim a impunidade. Difícil de conquistá-las, mas não impossível. Porque tudo “podemos naquele que nos fortalece”, como dizia o Apóstolo Paulo.
Não seria demais para aqueles que desejam exercer atividade política passar por momentos de formação, a exemplo de outra profissão. Elegemos tantas nulidades que decidem por nós.
A política é uma atividade nobre, e tem suas exigências. Dela originam-se as leis para organizar a vida da sociedade, nossos ganhos, e também nossas perdas. Quem sabe, temas como administração pública, economia, ética, moral, filosofia e religião seriam o alicerce de uma sociedade justa e fraterna, como sonhavam Dom Marcelo, Celso Furtado e Rubens Ricúpero.
Sonhar ainda é possível. Sonhar porque, “quem sabe faz a hora acontecer”.
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ENTREVISTA NA HORA H - 16/07/2024