João Pessoa, 08 de dezembro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
Professora Emérita da UFPB e membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba (AFLAP]. E-mail: [email protected]

   O amor – sentimento acalentado

Comentários: 0
publicado em 08/12/2022 ás 08h12

         O amor é o sentimento mais nobre do ser humano. É ferramenta para vencer obstáculos. Ajuda a ultrapassar momentos frágeis e vicissitudes da vida, não importa a aparência e a condição financeira e social. Aceita o outro como ele é, sem exigir mudanças. Proporciona uma série de sensações traduzidas em sonhos de consumo, de solidariedade, de gratidão, de amizade, de poder. Como força propulsora impulsiona a atingir objetivos. É sentir a presença de Deus: “Nós amamos por que Ele nos amou primeiro”. (1 João 4:19). O amor faz suportar situações difíceis de dor e sofrimento. Compara-se a uma rosa que, mesmo bela, tem espinhos que nos furam e machucam. É invisível e faz-se presente em gestos grandes ou pequenos, no estender de uma mão e num olhar. Sentem-se suas ações sem que seja visto. Isto é o amor. Todas as palavras são insuficientes para traduzi-lo e descrevê-lo.

    Uma amiga morava na periferia do Recife, filha mais velha de pais com quatro filhos. Nessa situação, desde adolescente tomava conta dos irmãos. Viviam na extrema pobreza, mas Zilda sonhava ter uma vida diferente. Foi quando com quatorze anos conheceu um rapaz e apaixonou-se.  Como toda menina pobre via no casamento a esperança de melhores conquistas. O Artur morava próximo à sua casa e também tinha condição precária, era dono de uma borracharia.  Sem orientação, com pouco tempo de namoro foram morar juntos. Porém a vida lhes pregou uma peça das piores.

Com o passar dos dias Artur foi se mostrando um mau companheiro, namorador, mulherengo, beberrão, que a humilhava muito. Sua vida era um tormento, engravidou e aos quinze anos teve sua filha Sisi. Com muito sofrimento, sem maturidade, enfrentou circunstâncias causadas pelo stress que passava com esse relacionamento. Chegou a submeter-se a dois abortos, um deles de oito meses devido a uma surra que levou do marido, a aponto de arrastá-la pelos cabelos, espancando-a. No hospital, não resistiu e abortou. Isto tudo devido aos maus tratos sofridos e que eram frequentes. Desse acontecimento em diante, já com dezoito anos, decidiu tomar uma atitude: a separação.

        É aí que aparece Fred. Em conversa, contou para Flavia, nossa amiga comum, que sempre olhou para Zilda e seu coração batia forte quando a via. Parecia dizer a si mesmo: “Um dia essa mulher ainda vai ser minha”. Admirava-a por sua beleza e pelo modo de cuidar da filha e da casa. Havia dentro dele uma paixão interna, mas que nunca assumiu, por que ela era comprometida.  Ficava se perguntando: “como uma mulher tão boa e bonita podia suportar aquele suplicio?” E de longe ficava curtindo aquele amor platônico. Ela, ao passar de forma tímida, dirigia o cumprimento cerimoniosamente. Todavia, diante de sentimento tão forte chegava a sua imaginação que “no dia que ela se libertar vou fazê-la a mulher mais feliz do mundo”. Sabia de toda história de Zilda. Para Zilda nunca passou por sua cabeça que aquele homem gostasse dela, mesmo porque a sua decepção era tão grande que não a fazia se interessar por outra pessoa.

  Zilda separou-se e ficou morando com Sisi em um quartinho não muito distante da sua antiga moradia, fazia faxina para poder sustentar a casa. Com dois anos de separada uma vizinha chamou-a para ir num pagode e, ao chegar lá, foi vista por Fred que logo foi convidá-la para dançar e durante a dança sussurrou em seu ouvido: “Você me permite fazê-la feliz?” Zilda foi tomada de surpresa. Fred confessou que sabia toda sua trajetória e sempre a acompanhava. Nutria uma paixão por ela, mas que estava esperando o momento certo. A partir desse dia iniciaram um relacionamento que durou três meses, quando resolveram morar juntos. Fred assumiu SIsi como sua filha e iniciaram uma vida em família. Com dois anos Zilda engravidou e teve outra menina, Clara, selando assim o amor dos dois. Fred era mecânico de uma grande empresa automobilística em Recife e se destacava por sua competência e interesse, pois sempre estava fazendo cursos e aperfeiçoando-se.

          Nesse tempo a empresa abriu uma loja em Joao Pessoa e Fred foi transferido, sendo nomeado gerente da parte mecânica da oficina. Veio residir em Joao Pessoa e trouxe a família que, por coincidência, tornou-se vizinha de porta dessa minha amiga, Marina. Com a proximidade, passaram a se conhecer melhor,  o que de algum modo suprimia a ausência da sua família que morava em Recife e se apoiavam muito como boas irmãs. A amizade já dura dez anos. No momento, SIsi mora em Portugal e Clara se prepara para o vestibular de medicina. Fred saiu do trabalho e montou sua própria empresa, condição que lhe oferece estabilidade financeira.

    A história da vida de Zilda confunde-se com a de outras tantas mulheres guerreiras. Afinal, conseguiu encontrar sua alma irmã e conquistar a felicidade, graças ao amor de Fred, acalentado por tanto tempo. Uma família feliz!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB