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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Eita, sertão dos bãos!

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publicado em 09/12/2022 às 08h04

Adjetivo algum tem suficiência de sentido para expressar qualquer dimensão do que seja o sertão. Em se tratando do sertão da Paraíba, a palavra, quaisquer das suas classes, jamais terá o condão de aproximação com a realidade sertaneja.

Rocha. O sertão da Paraíba crepita as suas entranhas mostrando a sequidão da terra, mas tem dentro de si o cheiro da chuva, pingos fortes salpicando as telhas da esperança que é teimosa como água em pedra dura, tanto bate até que fura;

Banho de biqueira. O sertão é como essas mães de quengo mole. Todos sabem: os filhos dos sertanejos não podem ouvir um trovão que já se preparam para o banquete da suprema felicidade;

Munganga. O sertão é um depósito cheinho delas. Em cada uma de suas quinas, há algo de inusitado que se aproxima do esquisito. O sertanejo é antes de tudo um  ser atravessado;

Simplicidade. O sertão é a complexidade traduzida em uma linha com infinitos pontos, mas o sertanejo só precisa de um deles para mascar a raiz de menos dois;

Sol. Nem haveria o astro-rei, se sertão não houvesse;

Baião-de-dois. Com costelas de porco assadas na brasa, o sertão enche o bucho até se empanzinar;

Festa de padroeira. Todos sabem que a máxima fé nas coisas dos céus e do inferno foram inventadas no sertão da Paraíba;

Brabeza. O sertão é bravo e ponto;

Mandacaru. Quando a flor se abre, o sertanejo rir. Como riem os sertanejos;

Desconfiados. Demais;

Melosos. Nas cantigas e nas falas, nos amores e nos abestalhamentos;

Sinceros. Há deles que nem falar precisam. Os seus olhos dizem tudo de uma só vez, nem que se lasquem;

São João e São Pedro: o rala-bucho pra trás, pra frente e de bandinha;

Cachaça. Sem ela não tem graça, muito embora muita desgraça tenha sobrado das curvas da ignorância  e do moído da “marvada”;

Presepeiro. Até quando quer se fazer de sabido, é trouxa; e vice-versa;

Reticências. O sertanejo jamais será um ponto. Suas ramas são acanalhadas e se espraiam pelo mundo afora nem que a vaca tussa.

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