João Pessoa, 16 de dezembro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O paga-não paga dos bolsistas da CAPES esse mês indignou o país menos do que deveria. Imagine possuir uma ocupação em tempo integral, de dedicação exclusiva, que exige nível superior completo, cuja remuneração é miserável e, ainda, incerta. Imagine que se você desistir dessa ocupação, terá que devolver todo o dinheiro recebido nos meses anteriores. Selvagemente injusto, certo? Essa é a realidade do pesquisador brasileiro, bolsista de mestrado e de doutorado, que além disso tudo, também teve que lidar com a incerteza de pagamento no mês de dezembro.
Quando se fala em pesquisa, imagina-se o pesquisador mais velho, de jaleco, que passa o dia em laboratório. Ou talvez um Robert Langdon, professor de simbologia criado pelo escritor Dan Brown, que se divide entre Harvard e uma série de enigmas polêmicos. Pouco se pensa sobre o pesquisador em formação, vinculado a um programa de pós-graduação, com tantos prazos e poucas recompensas. Entretanto, somos (me incluo nessa conta) maioria: há mais de 122 mil alunos de pós-graduação matriculados no Brasil de 2022.
Muitos dos intelectuais brasileiros de relevância hoje foram bolsistas. Além dos mais óbvios, que posteriormente se tornaram professores universitários, alguns escritores de destaque conciliaram a paixão pela palavra com a pesquisa universitária. Itamar Vieira Jr., (foto) autor do best-seller Torto Arado, foi pioneiro até na bolsa que recebeu: foi a primeira pessoa a ganhar a bolsa Milton Santos, para estudantes de Geografia, durante a graduação.
Um país se faz com tubos de ensaio e pepitas, com computadores de ponta, com livros históricos, com discussões filosóficas, com pesquisas sérias, com textos interessantes, com profissionais bem pagos. É inadmissível o valor irrisório da bolsa, assim como os cortes de gastos com educação. Sem ciência – em todas as suas modalidades, inclusive as humanas – não há ordem, tampouco progresso.
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OPINIÃO - 22/11/2024