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Clara Velloso Borges é escritora, professora de literatura e mestranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected]  

É difícil ser pesquisador no Brasil

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publicado em 16/12/2022 ás 07h00
atualizado em 15/12/2022 ás 21h40

O paga-não paga dos bolsistas da CAPES esse mês indignou o país menos do que deveria. Imagine possuir uma ocupação em tempo integral, de dedicação exclusiva, que exige nível superior completo, cuja remuneração é miserável e, ainda, incerta. Imagine que se você desistir dessa ocupação, terá que devolver todo o dinheiro recebido nos meses anteriores. Selvagemente injusto, certo? Essa é a realidade do pesquisador brasileiro, bolsista de mestrado e de doutorado, que além disso tudo, também teve que lidar com a incerteza de pagamento no mês de dezembro.

Quando se fala em pesquisa, imagina-se o pesquisador mais velho, de jaleco, que passa o dia em laboratório. Ou talvez um Robert Langdon,  professor de simbologia criado pelo escritor Dan Brown, que se divide entre Harvard e uma série de enigmas polêmicos. Pouco se pensa sobre o pesquisador em formação, vinculado a um programa de pós-graduação, com tantos prazos e poucas recompensas. Entretanto, somos (me incluo nessa conta) maioria: há mais de 122 mil alunos de pós-graduação matriculados no Brasil de 2022.

Muitos dos intelectuais brasileiros de relevância hoje foram bolsistas. Além dos mais óbvios, que posteriormente se tornaram professores universitários, alguns escritores de destaque conciliaram a paixão pela palavra com a pesquisa universitária. Itamar Vieira Jr.,  (foto) autor do best-seller Torto Arado, foi pioneiro até na bolsa que recebeu: foi a primeira pessoa a ganhar a bolsa Milton Santos, para estudantes de Geografia, durante a graduação.

Um país se faz com tubos de ensaio e pepitas, com computadores de ponta, com livros históricos, com discussões filosóficas, com pesquisas sérias, com textos interessantes, com profissionais bem pagos. É inadmissível o valor irrisório da bolsa, assim como os cortes de gastos com educação. Sem ciência – em todas as suas modalidades, inclusive as humanas – não há ordem, tampouco progresso.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB