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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

O homem estrambótico

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publicado em 16/12/2022 às 07h00
atualizado em 15/12/2022 às 18h37

 

Era daqueles dias sem sentido, mas todos sabem que o não-sentido é sentido em abundância. Quis, então, perder-se dentro de si mesmo, mas seu eu estava tão esvaziado que não era compatível com qualquer corpo estranho, sobretudo a si mesmo, um ser inquieto e infartado.

Quis voltar ao passado, mas as lembranças são como os mortos arrependidos. Projetar-se no futuro, mas o futuro também era ilusão. Fincou o pensamento no presente, mas o incômodo era profundo, afinal, o pé que pisa no presente sempre está navegando no passado e, quanto ao futuro, ah! O futuro é um bicho glutão de todos os presentes e plenitudes.

Então, pôs-se a chorar. Se até o presente não existia, tudo era uma farsa. Ele, também, embora seu cachorro estivesse com dois sorrisos estrambóticos querendo um cafuné.

Pelo seu cachorro, quis acreditar que dentro do seu pensamento ainda havia alguma racionalidade, mas também imaginou que a razão era como o tempo, um bicho com sentido com muito não-sentido dentro dele.

Então para não endoidecer, imaginou que o tempo poderia ser à moda de um círculo em que a cabeça sempre come o próprio rabo, mas como todos consideravam esse Deus como uma linha esticada até o infinito, pôs a maquinar uma forma alternativa.

Quis endoidecer, mas o cachorro latiu.

Quis endoidecer de novo, mas os doidos não são levados em consideração e aquele fru-fru de pensamentos era fundado em uma racionalidade própria, espetacular, nunca  antes navegada.

Abriu a boca, coçou o saco, espreguiçou-se e os ossos das suas juntas estalaram quase ao mesmo tempo. Isso foi bom, pensou, mas pensado assim, voltou ao ponto zero.

Confundir o tempo com os relógios…, mas não deu. Pensou em um relógio em que o ponteiro menor girasse no sentido horário e o maior ao contrário. Ao final, a diferença seria o substrato do tempo. Uma boa teoria, pensou. Foi aí que o sono chegou, mas não havia mais tempo de morrer. O cachorro batia as asas exigindo providências.

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