João Pessoa, 19 de dezembro de 2022 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Há vida depois da morte? Temos uma natureza imortal? Há vida eterna? De alguma forma, voltamos a viver? Estas são questões que podem ser respondidas de várias formas, a depender da orientação religiosa da pessoa a quem elas sejam dirigidas, variando da fé mais cega ao ateísmo mais renhido, passando pela atenuação de alguma doutrina espiritualista que não advogue a preocupação doutrinária do proselitismo.
O Cristianismo acredita em vida após a morte e na vida eterna; o Budismo e o Espiritismo acreditam na reencarnação da alma até a sua completa libertação, ainda que de maneiras diferentes. O Espiritismo acredita na natureza imortal da alma, assim como o Platonismo, e que somos predeterminados à luz, só depende de nossa determinação em nos transformar intimamente, por isso alguns demoram mais do que outros, presos na viciação, o que os faz reencarnar tantas vezes quantas forem necessárias, presos à roda do sansara, na concepção budista.
Independente, no entanto, de credo ou de doutrina religiosa, asseguro que todas as perguntas acima têm como resposta um sonoro e redondo sim!, e tem como lastro a mais pura ciência.
Viemos da matéria inorgânica, da poeira das estrelas, constituídas de metais pesados. Matéria que se agrupou em torno do carbono, da água e da luz do sol, provocando uma sopa primordial, plasma criador da primeira forma de vida. Esta vida, que começou no mar e seguiu para a terra foi se desenvolvendo, em um processo de transformação de uma única célula, para organismos mais complexos. Ao longo da evolução, a especiação chegou até os animais e sua procriação por fecundação de um óvulo e transformação por epigênesis.
Basicamente constituídos, como seres humanos, passamos a nossa existência na dependência do carbono, o andaime da vida, nas sábias palavras de Richard Dawkins. Quando morremos, nossa matéria orgânica, vai retornar à pátria da homogeneidade, como diria o poeta Augusto dos Anjos, para que, misturando-se ao inorgânico, possa dar origem a novas vidas orgânicas, em ciclos que se repetem, a cada vez, diferentes.
Viveremos no solo, nas árvores, nos animais, em outros humanos, que se alimentam dessas matérias orgânicas e dão origem a novas vidas humanas, em que estaremos, de alguma forma, presentes. Os que deixaram algo além do corpo, estes viverão na essência do consciente ou do inconsciente, a partir do legado cultural imaterial deixado. Como “sombra que há de ficar aqui” ou como “agregado abstrato da saudade”.
O poeta do Eu sabia das coisas. A morte não é o fim. Nem o corpo físico morre, apenas se transforma, sendo a morte “a alfândega onde toda vida orgânica/há de pagar, um dia, o último imposto” (“Os Doentes”, estrofe 30, versos 115-118). As perguntas podem parecer, portanto, inquietantes, mas tenho por alentadoras as respostas que a natureza nos dá.
À parte isto, lembremos o texto “A controvertida comunicação com os espíritos” de Joanna de Ângelis, psicografado por Divaldo Franco, em que ela fala da imortalidade de nossa alma e de quem eu aproveitei uma frase para intitular o presente texto: Somos imortais, ainda que caminhemos para a morte física, no entanto, não paramos na morte, nem ela é o fim de todas as coisas: a morte nos proporciona a ocasião de mudança, porque na nossa jornada há “só transformações, nunca aniquilamento”.
Finalizemos com a chancela do poeta Augusto dos Anjos, ainda em “Os Doentes” (Parte V, estrofe 58 e 60, versos 227-230 e 235-238):
Não me incomoda esse último abandono.
Se a carne individual hoje apodrece,
Amanhã, como Cristo, reaparece
Na universalidade do carbono!
Eu voltarei, cansado da árdua liça,
À substância inorgânica primeva,
De onde, por epigênesis, veio Eva
E a stirpe radiolar chamada Actissa!
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TURISMO - 19/12/2024