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Jornalista, cronista, diácono na Arquidiocese da Paraíba, integra o IHGP, a Academia Cabedelense de Letras e Artes Litorânea, API e União Brasileira de Escritores-Paraíba, tem vários publicados.

Árvore do Natal  

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publicado em 21/12/2022 às 07h00
atualizado em 20/12/2022 às 16h14

 

 

 

         Quando chegava dezembro, o mês das festas, íamos a capoeira buscar os galhos de árvore para mamãe montar a árvore do Natal, como fazíamos anualmente.  

Ao alvorecer do novo ano, nossa residência era preparada com simplicidade. Todos os cômodos da casa eram caiados de branco. Consistia, basicamente, em uma árvore enfeitada com algodão e uma mesinha no canto da sala onde depositavam-se imagens de barro representando a Sagrada Família, com o Menino na manjedoura, alguns bois e carneirinhos.  

         O ambiente preparado, todos aguardavam a noite gloriosa para participar da missa campal em frente à Igreja, como acontecia todos os anos.  

         O pequeno espaço preparado com esmero, cuja simplicidade trazia uma paisagem de alegria. A sala era iluminada pela lamparina de querosene colocada em um suporte de tábua fixado na parede, que deixava o ambiente melancólico.  

         Na festa de aniversário de Jesus, não tinha troca presentes ou peru assado, pouco se rezava mas havia um Terço junto do presépio, todavia só em perceber o Menino Jesus, sua mãe Maria e José, junto aos animais com os três Reis Magos naquele recanto da sala, dava uma impressão de que coisas boas aconteceriam no ano que estava por vir.  

         O grande momento aguardado por nós, crianças ficando taludas, era a festa de final de ano na cidade. Oito dias de festas com direito a parque de diversão, roda-gigante, carrosséis, barracas e pavilhão coberto de palha de coqueiro. Na beira do pavilhão, assistíamos aos leilões de galinhas arrematadas para fartar a mesa do arrematante. Os cordões encarnado e azul disputavam para saber quem elegeria a Rainha da Festa.  

         Menino do mato, eu observava aquilo e achava interessante. Moças bem vestidas e sorridentes não saiam do meu pensamento.  

         Com certa antecedência da festa da Igreja, passava pelos sítios comitiva enviada pelo padre para arrecadar donativos para as quermesses, galinhas e frangos que seriam leiloados na festa da Igreja.  

         Na noite de Natal e na passagem de ano, toda a festa parava de funcionar às 11 horas para a missa campal. Pavilhão, carrosséis, banca de jogos tudo dava uma pausa. Ouvi e vi com esses olhos que a terra há de comer, que certa vez, quando Padre Aluísio Catão, com paramentos para iniciar a celebração, em altar preparado em frente à igreja, insistia com voz potente na difusora para que os brinquedos parassem. “Vou dá cinco minutos, senão eu mesmo irei parar essa roda-gigante”.   

         Era uma época em que os padres tinham voz ativa.  

         Lembrei de uma cena da novela das 18 horas, Mar do Sertão, em que o padre Zezo, interpretado pelo paraibano Naneco Lira, agarra pelo colarinho o dono de uma bodega que explora seus fregueses, obriga devolver o dinheiro que surrupiou da fabricante de cocadas. Padre é para mostrar que a justiça deve ser feita.  

         Recordo, hoje, aqueles momentos nas cenas que Manoel Bandeira remonta em mim com seu Canto de Natal.  

         O nosso menino  

         Nasceu em Belém.  

         Nasceu tão-somente  

         Para querer bem.  

          

         Nasceu sobre as palhas  

         O nosso menino.  

         Mas a mãe sabia  

         Que ele era divino.  

          

         Vem para sofrer  

         A morte na cruz,  

         O nosso menino.  

         Seu nome e Jesus.  

 

         Por nós ele aceita  

         O humano destino:  

         Louvemos a glória  

         De Jesus menino.  

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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