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Jornalista, cronista, diácono na Arquidiocese da Paraíba, integra o IHGP, a Academia Cabedelense de Letras e Artes Litorânea, API e União Brasileira de Escritores-Paraíba, tem vários publicados.

Primavera e Verão  

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publicado em 28/12/2022 às 07h00
atualizado em 27/12/2022 às 16h18

 

A Primavera terminou. O Verão começou. Nem precisava recorrer ao calendário pendurado na parede para constatar isso. Tudo leva a perceber o começo da nova estação.  

         As mudanças visíveis na Natureza indicavam que a Primavera trazia o Verão para perto de nós, com vento quente e mormaço avassalador.  

         Voltei de Serraria com essa sensação, percorri a praia do Cabo Branco na contemplação à Lua cheia, a última do ano, com a certeza de que o Verão trouxe enorme beleza à paisagem da cidade.  

Essa Primavera deixa lembranças. Mas o Verão traz boas recordações do tempo em que morava o sítio. Tapuio era tomado pelo canto das cigarras e nos barreiros, no meio da vegetação, os pássaros bebiam água. Quando nos aproximávamos, rolinhas fugiam em revoada. Eu admirava tudo aquilo em silêncio.  

Neste ano quando o Brasil perdeu mais uma Copa do Mundo, a Primavera será lembrada pelas flores do nosso jardim e pela floração da vegetação de minha terra, registrada na memória.  

Os canteiros e praças da cidade deram o tom desse período que deixará saudades. Temporada das folhas verdes, das flores e do vento suave que não passou incógnita porque deixou seu rastro na memória afetiva, no poema e na crônica redigida.  

Nesta cidade ainda escutamos cantos de pássaros, apesar de dispersos, sobretudo nas manhãs antecipadas, no alvorecer quando bem-te-vi solitário canta na árvore ou fio da rede elétrica. Um canto que traz a saudade das Primaveras da minha infância.  

Eu gostava desse período ano por vários motivos. A começar pela safra de caju. Os cajus mais saborosos eram os bicados pelos sanhaçus. Era abundante o consumo do doce, do licor e do suco que mamãe fazia.  

Era o tempo em que residia no sítio. Neste período era bonito escutar os galos que anunciavam o novo dia. Foi quando nasceu em mim a mania de madrugar. Achava bonito o canto dos galos no terreiro de casa. Da casa vizinha, o outro galo respondia numa disputar que terminava ao clarear do dia.  

Mais do que aqui, quando viajo para minha cidade, escutar o canto do galo no amanhecer e os pássaros dando sinais da Primavera é algo prazeroso.  

Neste período do ano, sentir a brisa morna das enseadas no entardecer é um desfrute sem igual. O sol silencioso cria ambiente de uma profunda paz. Serraria ou Arara, para onde sempre retorno, são lugares que me dão essa sensação de paz.     

         Comento com Sofia a mudança de estação da Primavera para o Verão. Ela sorri com os olhos de primavera. Suas mãos carregam o perfume das flores do lugar onde nasceu. Recordamos do pôr do sol entre as enseadas de nossos canaviais e reservas de matas que restam nos lugares de onde viemos.  

A Primavera andará conosco durante o Verão que se inicia. Teremos dias ensolarados e tardes desenhadas com o pôr-do-sol avermelhado, que dá vontade de escutar a “Valsa das Flores” de Tchaikovsky.    

Primavera é poesia, silenciosa e translúcida. Estação calma, como silêncio das plantações, dos córregos sem água, da fronte das montanhas floridas, da brisa oferecida pelo mar. Paisagens que, ao seu tempo e lugar, moviam Strauss para captar vozes silentes na composição de suas canções.  

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB