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Clara Velloso Borges é escritora, professora de literatura e mestranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected]  

Entre sonhos e segundas

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publicado em 30/12/2022 ás 07h00
atualizado em 29/12/2022 ás 21h08

Antagonicamente, o dia preferido do procrastinador é a segunda-feira. Parece odiá-la, já que deveria vir carregada de obrigações, mas é o dia sobre o qual mais fala. Antes dela chegar, tudo é permitido. Quase um carnaval das nossas metas pessoais. Com a iminência de um novo ano, até para os mais disciplinados, todos os dias até a virada parecem segunda-feira. Tacitamente, é firmado um tratado antropológico: ano que vem a gente começa.

Como se as grandes decisões pudessem esperar, como se os momentos definitivos, que transformam o curso das nossas vidas, não fossem fortuitos. Como se houvesse algum instante em que acreditamos estar realmente prontos para uma mudança brusca, e pior, como se tivéssemos a arbitrariedade para definir esse instante.

O desejo, muitas vezes, é maior do que os planos. Não cabe no calendário, mesmo que os sonhos não envelheçam, como canta Milton Nascimento. Quando pulsa, o desejo começa hoje. Tamara Klink, (foto) velejadora, pôs seu barco no mar sozinha pela primeira vez, a contragosto da família, antes de terminar a faculdade. Não era o tempo que ninguém julgava ser certo. Mas foi o tempo em que seu sonho ganhou forma.

O sobrenome não é coincidência: Tamara é filha de Amyr Klink, também grande navegador. A velejadora sonha, contudo, por conta própria. Em Mil Milhas, uma espécie de diário de bordo publicado por Tamara, confessa que sonhos são coisas perigosas. A gente não decide tê-los, nem define como serão. Nascem próprios e sem que percebamos, como mostra Tamara, já nos são.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB