João Pessoa, 04 de janeiro de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Vi a mãe chorando e o menino calado. O menino ganhou e a mãe não fez o jogo. Isto depois, que sabemos fazer um a felicidade ilusória do outro, enquanto a vida não o faz melhor.
O menino fez o jogo, a mãe não fez. E nessas “senas” de passarmos de pessoas normais para pessoas sortudas, vamos aprendendo sobre jogar na vida, nas hipóteses absurdas, raras, e vamos afunilando os resultados atentos às vozes do menino.
Dinheiro? Pra que dinheiro? Se ela não me dá bola, é só uma canção besta de Martinho da Vila, que durante anos está na boca do povo, mas não paga as contas.
Vi na tevê Dona Linda Inês chorando, porque o filho Pedro Henrique tinha acertado os seis números da Sena, uma cena que não se repetirá e a mãe haverá de jogar mais e mais na incerteza de que um raio pode cair duas vezes no mesmo teto.
Essas divagações que aos miúdos servem como passamentos e já passou, e eu nem queria escrever sobre isso, mas como nos parece que o vento trespassa a flor que sem se alterar logo se desfaz a dança da alegria no chão batido, quase que parece revolver-se no gozo. Não, não é bem assim.
O menino marcou os números e a mãe a distância num respiro, numa falta de tempo, no esquecimento e a vida inteira chega a ser apenas um modo de atar tudo e sustentar a palavra.
Os dias que interrompem a perda do jogo, no curso das coisas, desse gesto de quem largaria seu bando enquanto escuta uns disparates na sua cabeça, mas mãe é mãe.
Eufórico o repórter aprendiz entrevistando a mãe do menino e o menino também, que não teve tempo sequer de pensar na vitória, antes que a mãe pudesse entender, e só depois, no ritmo do jogo, da força ao que se entrega a uma alegria de mudar de vida, descobre entre variações impetuosas, que não fez o jogo da vitória.
A vida segue igual as bobeiras das telenovelas, o sentido logo morre em debandada, com o absurdo e a agonia delirantes, pois, se ela tivesse feito o jogo do menino, não estaria ali dando entrevistas.
O coração em disparada despe-se do que poderia ter sido e não foi, das boiadas e boiadeiros, da canção de Geraldo Vandré
PS – Essa é a história de Linda Inês e Pedro Henrique, da cidade de Cajazeiras, no interior do nosso Estado.
Kapetadas
1 – Manter a calma é a melhor forma de manter a calma.
2 – Como não pensei nisso antes.
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OPINIÃO - 22/11/2024