João Pessoa, 18 de maio de 2012 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Um levantamento realizado pela Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI) aponta que a agricultura e o setor de serviços no Estado poderão amargar um prejuízo de até R$ 7,7 bilhões com a seca que assola o Nordeste. Isso ocorrerá caso não chova até o mês de outubro, completando o ciclo de um ano sem precipitações. Esta é a pior seca em décadas, e no Estado se fala na pior em 47 anos.
Ver em tamanho maiorVeja imagens da seca no NordesteFoto 31 de 55 – Açude seco deixa pequeno plantador sem perspectiva de negócios em Santa Brígida (BA). Mais de 750 municípios do Nordeste já decretaram situação de emergência e mais de 4 milhões de pessoas foram afetadas Mais Beto Macário/UOLO estudo levou em conta três possíveis cenários. No primeiro deles, o mais otimista, com chuvas até o início do mês de junho, o prejuízo agrícola chegaria a R$ 3,8 bilhões. No segundo cenário, mais moderado e considerando chuvas a partir de agosto, o déficit alcançaria R$ 5,7 bilhões. No terceiro e mais pessimista cenário, o prejuízo alcançaria R$ 7,7 bilhões do PIB (Produto Interno Bruto) estadual. Segundo o IBGE, o último PIB consolidado da Bahia é de 2009 e somou R$ 137 bilhões.
“Na análise do cenário pessimista considerou-se uma redução de 40% na produção agropecuária e, como consequência, uma queda de 20% no setor de serviços e comércio dos municípios atingidos pela seca”, apontou o estudo.
“Essa é uma simulação para mostrar que essa seca veio realmente muito forte. A gente tem esse terceiro cenário, que digo pessimista, mas que possivelmente pode ocorrer se as chuvas não caírem até outubro –aí fecharíamos um calendário agrícola inteiro de seca, com algumas culturas perdendo as três safras. É um tipo de perda que não se pode recuperar”, explicou ao UOL o coordenador de Acompanhamento Conjuntural da SEI, Luiz Mário Vieira.
Segundo o levantamento, existem 446 mil estabelecimentos agropecuários nos municípios em situação de emergência, o que corresponde a mais de 60% daqueles existentes na Bahia. Desses, 58% são pequenas propriedades, com menos de 10 hectares de área (cada hectare equivale a 10.000 m²).
Os números ainda mostram que mais de 2,2 milhões de pessoas trabalham nas lavouras nos municípios em situação de emergência e estão sofrendo diretamente com a estiagem.
Prejuízo maior – Mas o prejuízo deve ser ainda maior que o estimado, já que não foi levado em conta o prejuízo da pecuária. “A pecuária é muito mais difícil mensurar. Vamos tentar fazer isso posteriormente, quando tivermos a noção da perda do rebanho. Há informações ainda desencontradas. Existe também uma perda derivada, que é a oferta de leite que já está sendo afetada. A oferta de carne também pode sofrer em alguns locais”, disse Luiz Mário Vieira.
Para a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Faeb), a estiagem provocará uma perda na produção geral entre 20% e 40%. Em 90 dias, segundo a federação, as pequenas cidades do interior começarão a sentir sinais de desabastecimento de carne bovina e o consequente aumento de preço do produto.
A produção de leite já apresenta uma queda aproximada de um terço, o que representa 1,5 milhão de litros por dia. Com redução de 60% na produção no setor, as cidades de Itapetinga, Jequié e Itabuna são as que sentem os maiores efeitos da seca.
A Faeb considera perdida a produção de feijão e milho que ainda não foi colhida. Em diversos municípios, não houve condições para plantio. O abastecimento deverá ser feito com os produtos vindos de Minas Gerais e do Paraná.
O plantio de frutas também está prejudicado, com exceção da região do rio São Francisco, onde não há problemas de irrigação. Por causa da seca, o governo proibiu o uso da água para fins comerciais e liberou apenas para abastecimento da população. A produção de abacaxi em Itaberaba, por exemplo, já está com a safra deste ano comprometida e com o plantio para o próximo ano atrasado.
Durante visita do UOL ao sertão baiano, muitos produtores se queixaram das perdas agrícolas causadas pela seca. “Sempre planto feijão e milho, mas esse ano a chuva não veio e não plantei nada. Ano passado perdi tudo, pois depois de maio a seca começou a chegar e a chuva foi enfraquecendo até parar de vez em setembro”, disse José Luís do Nascimento, 65, agricultor de Santa Brígida (a 458 km de Salvador).
Festas juninas – Além do plantio e criação de gado, a seca afeta os festejos tradicionais de Santo Antônio, São João e São Pedro. Até o momento, 26 municípios baianos cancelaram suas festas por causa da seca e 21 reduziram as atividades.
A orientação do Tribunal de Contas dos Municípios é para que não gastem com os festejos juninos mais do que o gasto em anos anteriores para que as comemorações não prejudiquem as ações de combate à seca.
Agência Brasil
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