João Pessoa, 08 de janeiro de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Meu trabalho era pesado e para compensar as extravagâncias da “noite-a-noite” no meu ofício eu vivia a beber energético. Certa vez me apresentaram a uma senhora muito distinta e poderosa, ela foi logo com a minha cara, estava contratado para trabalhar com ela. Assim que saí de seu suntuoso escritório me deparo com uma banca de revista robusta, daquelas com geladeira, ali no Leblon, na Ataulfo de Paiva.
Compro um energético de latinha daquela marca famosa que por sinal estava hipergélido e o bebo de uma só vez. Vem uma voz no meu ouvido suspirando dizendo que não poderia nunca tomar uma bebida dessas… Me viro e é ela a elegante chefe. Ela complementa falando que era cardíaca que não poderia nunca avançar o sinal, muita taurina e cafeína, palavras dela, não era bom, pois já tinha dois “stents”, aquela molinha utilizada para restaurar o fluxo sanguíneo na artéria coronária e trazer um ritmo quase normal. Sim, quase, pois a patroa não gozaria do mesmo prazer da latinha que eu, uma lástima.
Hoje nem tomo mais, fico pensando que o cardíaco agora sou eu(risos). Ela saiu de fininho e me chamou para almoçar no dia seguinte. Aceitei, lógico. No outro dia estávamos amigos de infância e ficou combinado a “segunda-com-lei”. Toda segunda almoçávamos juntos e ela me contava dos sonhos e projetos e eu incluído, segundo ela, em todos, uma dádiva. Após seis meses e uma semana com minha ex-patroa, sim, porque agora já estava alçado ao patamar de amigo íntimo e me lembrava muito o livro/peça/filme existencialista “ensina-me a viver” que narra o relacionamento inusitado entre Harold, um jovem que tinha medo da vida e já pensava na morte, e Maude, uma viúva admiradora da vida. Era bem isso, voltando aos quase sete meses de intimidade e risadas, chega uma segunda-feira que a esperei muito com meu energético, já estava no terceiro e resolvi ligar no meu celular da marca gradiente, após oito chamadas, Suzana, sua secretária, deu aquela notícia que nos perturba sempre, minha Maude partira para outro plano, assim como no filme.
Seu coração não aguentou e o meu virou uma ervilha naquele momento. Foi um duro golpe. Essa finitude é traiçoeira, mas fui andando pela lagoa Rodrigo de Freitas até em casa, buscando respostas e a solução estava também no filme, ela me ensinou a viver melhor, a sacudir a poeira, a sorrir dos seus dois stents, a confiar no meu potencial, pensar mais na vida que na morte( esse foi o legado maior) e tanta coisa mais que passei a enxugar as lágrimas com minha camisa suada e lembrei que nada é para sempre mesmo e que devemos guardar bem as alegrias e retomá-las de vez em quando na gaveta da memória, somos gente, entramos na vida das pessoas, deixamos e levamos aprendizados, precisamos valorizar tudo isso e viver mais o agora e mais e mais e mais e mais… Deu saudade hoje, minha Maude, acho que, por não termos sido mesquinhos no afeto, me empanturrei de risadas ao invés de choros. Foi lindo!
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TURISMO - 19/12/2024