João Pessoa, 13 de janeiro de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Dos versos mais bonitos da MPB, “Meu amor, você me dá sorte” me arrebata pela simplicidade poética. Na voz de Gal, (foto) então, é extasiante. De tudo que uma pessoa pode trazer para a outra, sorte é uma das menos sofisticadas e das mais profundas: diferente de flores ou chocolate, que dependem do nível de romantismo da pessoa amada, a sorte é quase emancipada de seu dono, dependente da torcida do acaso.
Sem sorte, o detetive Hercule Poirot não se depararia com boa parte das pistas que a escritora Agatha Christie plantava em seu caminho. Com um pouco de sorte, talvez Riobaldo e Diadorim tivessem efetivamente vivido seu amor em Grande Sertão: Veredas, ou Florentino Ariza e Fermina Daza tivessem vivido um amor menos doloroso na história de Gabriel García Márquez.
É claro que nem tudo é sorte. As vitórias mais marcantes e duradouras costumam ser mais filhas do esforço do que do acaso. O contrário, contudo, raramente é reconhecido: querem sempre imputar a paternidade do fracasso ao azar. Oras, se fosse possível determinar as linhagens do fiasco, haveria mais responsáveis do que imaginamos: oportunidades, dedicação e, óbvio, um pouco de sorte.
Nelson Rodrigues dizia que sem sorte não se toma nem um Chicabon: você pode engasgar com o palito ou ser atropelado pela carrocinha. Neste verão paraibano, em que a vontade de andar sobre o sol me inunda, enquanto tomo um Chicabon e contemplo o mar da praia de Cabedelo, penso: que sorte.
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OPINIÃO - 26/11/2024