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É formado em Direito pela UFPB e exerce funções dedicadas à Cultura desde o ano de 1999. Trabalhou com teatro e produção nas diversas áreas da Cultura, tendo realizado trabalhos importantes com nomes bastante conhecidos, tais como, Dercy Golcalves, Maria Bethania, Bibi Ferreira, Gal Costa, Elisa Lucinda, Nelson Sargento, Beth Carvalho, Beth Goulart, Alcione, Maria Gadu, Marina Lima, Angela Maria, Michel Bercovitch, Domingos de Oliveira e Dzi Croquettes. Dedica-se ao projeto “100 Crônicas” tendo publicado 100 Crônicas de Pandemia, em 2020, e lancará em breve seu mais recente título: 100 Crônicas da Segunda Onda.

A Carta 7

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publicado em 15/01/2023 ás 07h52

É bem difícil falar do silêncio bem como praticá-lo.

Eu me acordei muito cedo, após uma noite intensa de comemorações, e passei uma hora calado, não falei com o felino 01, nem com o 02 nem com o novato 03, apenas os alimentei e os tratei carinhosamente, mas aquela fala de criança boba que falamos com os pets estava descartada.

O silêncio é isso, você se abster dos costumes. Temos um hábito de falar demais, de pôr pra fora um turbilhão de emoções, de expressar com rapidez, por fim, ser excessivo demasiado e ansioso. A prática do silêncio é milenar e sempre que pratico levo comigo um bilhete avisando que estou no ato do nada falar. Assim foi quando deixei minha casa em direção ao uber, o pior que entrego o bilhete e dou risada, mas o melhor mesmo foi o BlaBlaCar, gente, sou fã do “bbc”, o que seria uma carona para bater papo (blábláblá) se torna uma experiência única, eu na frente, calado com mais 4 pessoas histriônicas misturando sotaques, fragrâncias e teorias absurdas, mas eu não podia revidar nada… um duro golpe na decência humana. Pois bem, se os prazeres da vida estão nas pequenas coisas, imagina nas mínimas, não falar também se torna um prazer.

É assim que funciona estar em silêncio, uma gama de pensamentos gostosos, perdões estimulados, pensamentos fluidos e respostas mais dinâmicas para coisas que te “incomodavam”, repare no tempo verbal.  Eu também me preparei para um menu às cegas!

Estou me sentindo muito evoluído, vou degustar tudo sem saber o que é, além de mudo, estarei cego, fico pensando, será que o próximo passo será andar com um bloqueador de sons nos ouvidos? Já tenho aqueles fones cafonas e úteis sem fio que mais parecem uns brincos desajeitados, mas gostaria de experimentar um “block” sonoro potente. Só não me peçam pra perder o paladar, ah isso não, minhas papilas não merecem tal castigo, pois são impecáveis no prazer de sentir o sabor do universo culinário.

Bom, a escrita tá boa, por aqui ainda em silêncio, pois caiu o número 7 no jogo Uno no hostel da Praia da Pipa por coincidência e ando reconhecendo o que está acontecendo internamente, ao invés de responder continuamente ao estímulo externo, tá lindo, assim como diz Oswaldo Montenegro em versos separados – metade de mim é o que ouço, a outra metade é o que calo – metade de mim é o que eu grito, a outra metade é silêncio! 

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB