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Caçador de palavras, de mim

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publicado em 16/01/2023 ás 07h00
atualizado em 15/01/2023 ás 18h49

Resolvi escrever este texto, há mais de um ano, quando imaginava que o melhor era nunca mais escrever nada. Muitas frustrações, indiferenças, derrotas… Quem mandou se esquecer que não se escreve com a expectativa do outro, mas para si, sempre. Se este “si” se tornará um leitor cabe muito menos a quem escreve do que a quem lê. Matemática difícil. Nunca fui bom com números, mas tentei algumas vezes me entender com eles. Porém, é das palavras que preciso. Mais das formas imprecisas, abstratas, do que das precisas, concretas. “Navegar é preciso, viver não é preciso…”

Ando à caça daquelas que me satisfaçam, me traduzam melhor. Cansaço,  desânimo, desmotivação… E, com tudo isso, mal acabara de me deitar, pouco depois da meia-noite de uma segunda-feira de chuviscos lá fora, e me vêm frases, ideias que me tiram daquele conforto para mergulhar no inferno do descanso desmotivado, aquele morninho, macio, que não nos leva a nada, nem a lugar algum. E aqui estou eu escrevendo algo que bem poderia ser o início de um livro que não tenho a menor ideia de onde veio e para onde irá.

Dias inúteis, noites insones. Dias obscuros, noites em claro. Tendo a dizer que toda estonteante beleza que me é fornecida pela Natureza diariamente através das minhas janelas é inútil. Tendência mentirosa. A verdade mais profunda é que ela me salvou e devo agradecer, em vez de resmungar. Sempre o Belo, a Arte, mesmo quando vindos da mais imensa e dolorosa tristeza, me salvou de mim mesmo. Inúmeras vezes. Já disse e já escrevi que, não fosse este ofício, esta vocação (missão?) de escrever, meu destino seria o hospício, a cadeia ou o caixão.

Exagero? Talvez, um pouco. Porém, é muitas vezes com a lente de aumento que somos capazes de (nos) enxergar e demonstrar o que verdadeiramente somos. Ou o que há no âmago de todas as nossas profundezas, nas nossas fossas abissais. Somos – e me repito, por já ter mencionado aqui e ali outras vezes esta ideia – o fruto vivo de um número incalculável de pessoas, nossos ancestrais. Gente de todos os tipos. Gente que cometeu a mais ignominiosa crueldade e também a mais sublime bondade, com todas as suas nuances entre estes dois polos, estão aqui dentro. Em mim, em você. Miscigenados. É a miscigenação da alma. Não há puros, somos todos impuros. À flor da pele e à flor da alma.

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