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Ana Karla Lucena  é bacharela em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba. Servidora Pública no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba. Mãe. Mulher. Observadora da vida.

A casa da minha avó

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publicado em 16/01/2023 às 07h00
atualizado em 15/01/2023 às 15h56

Um dos dias mais tristes da minha vida (e não seria o último, muito menos o pior… pude constatar pouco depois) foi o dia em que a minha avó materna faleceu. Éramos muito próximas. Em uma época da vida, estive mais próxima dela do que da minha própria mãe. Ela partiu abruptamente, de modo que não tive sequer a chance de me despedir. Uma parada cardíaca a deixou na UTI de um hospital, de onde era possível apenas vê-la de longe.

Mas, a passagem da minha avó tirou de mim mais do que eu poderia imaginar. Não fui privada apenas da convivência física com ela. Perdi também a casa dela. A casa da minha avó não era só um lugar, era um evento. Era onde eu tinha os tios, os primos, as conversas, as risadas, as discussões, o bolo de bata doce com café ao final da tarde de sábado. Era onde eu recebia os conselhos, os puxões de orelha, as críticas, os elogios, o afeto.

A casa da minha avó era o elo que mantinha a família unida, para tudo e apesar de tudo. Era o lugar para onde todos corriam ao menor sinal de adversidade. E lá nos aconchegávamos, mesmo muitas  vezes não ouvindo o que queríamos, mesmo diante de possíveis desavenças. Ela nos abrigava emocionalmente, materialmente, psicologicamente. Hoje vejo que a casa da minha avó não eram as quatro paredes. Era o colo dela. E como cabia gente nesse colo…

Pouco tempo depois, amenizada a dor da perda, a casa da minha mãe assumiu este papel. Eu via, gradualmente, minha mãe, que era a filha mais velha, ocupando o lugar que era da minha avó. Ela trouxe para si a missão de reunir a todos, mesmo que fosse em datas comemorativas. Via as pessoas a ela recorrerem em suas agitações. Via o acolhimento com o qual ela recebia a todos. O brilho nos olhos quando ela via a mesa farta de alimento e de pessoas. A casa da minha mãe era o colo da minha mãe. E como cabia gente nesse colo…

Ela também partiu (agora vejo que foi este o dia mais triste). Perdi tudo novamente. A sensação de pertencimento foi embora. Os tios, os primos… o colo. Não tenho a capacidade, como filha mais velha, de assumir o papel que era dela. Alguns nascem com esta missão. Eu não. Mas quero construir uma casa assim para meus filhos e netos. Uma casa-colo que abrigue, que ame e que seja o palco de  excelentes memórias.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB