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Clara Velloso Borges é escritora, professora de literatura e mestranda em Estudos Literários pela Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected]  

Despertador

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publicado em 20/01/2023 ás 07h00
atualizado em 19/01/2023 ás 21h25

Em meados de 2008, entre tentativas de roubar a Colheita Feliz dos amigos, olhávamos as comunidades no Orkut. Estampada com um Garfield de pijama, a comunidade Eu Odeio Acordar Cedo, da qual fazia parte, me representa até hoje. Não pulo da cama, com bom humor matinal, nem mesmo quando desperto de um sonho nebuloso. Pouco importam as vantagens: cada minuto a mais que ganho pela manhã é um momento perdido de descanso.

Não nego a responsabilidade, atendo quando o dever chama, seja lá de que horas. E faço bem feito, mesmo que com pouco prazer. Entretanto, alguns compromissos que exigem maior interação social no alvorecer, como atividades em grupo, configuram tortura qualificada. A felicidade de uma aposentada gasguita na academia às 7 horas da manhã é quase ofensiva. Claro, um galo sozinho não tece manhã. Mas precisa ser tão cedo?

Se sou acordada por outra pessoa, sem uma razão imprescindível, logo começo a planejar uma vingança shakespeariana, sanguinolenta. Ou digna de Medeia, (fotoi) desejando impingir ao meu traidor a mesma dor que me foi impingida.

Quando a flor da madrugada desabrocha devagar e acordo espontaneamente, apesar do desgosto pela hora, me resta apenas um desejo: a de ter um dia tão agradável que deitar para dormir seja tão trabalhoso como levantar pela manhã costuma ser.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB