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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Hoje, eu falo de outros tempos

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publicado em 20/01/2023 ás 07h33
atualizado em 20/01/2023 ás 07h42

Nasci em um pé de serra, a Serra do Desterro (Sítio Saco sinhazinha-Joca Claudino-Paraíba) que, no inverno, esparramava seu riacho bonachão até escorrer, preguiçoso, no oitão da minha casa.

Tínhamos um rádio velho de oito pilhas. Não sei como chegou até nós. Decerto, havido por escambo com os ciganos, uma das profissões de papai quando ele não estava contando suas estórias ou fazendo as alpargatas de couro cru.

Lembro das tardinhas, do programa “Terreiro da Fazenda”, de mãe dançando sozinha na sala quando ainda tinha a vista para lhe guiar os passos, ou do programa do coronel Ludujero e sua amada Felomena.

Só me interessei por futebol com a Copa de 1970. Comecei vascaíno, mas quando ouvi o nome “botafogo”, numa época que ele possuía todas as honras de um time glorioso, a coisa desandou de vez.

Naquele fim de mundo, era uma complicação sintonizar a Rádio Globo, mas graça a fortaleza do velho rádio e aos palitos de fósforos escorando os transistores, a voz maviosa do locutor soava todas as noites em aclives ou declives de felicidade.

Waldiiir Amaraaal!

Eu vivia dentro de um mundo diferente. Minhas piabas, meu riacho, minha bola de meia, meus medos, minha solidão. Eu sempre fui absurdamente solitário! Foi bem depois que me tornei falador, apenas estratégia de uma timidez que se deu conta que era ela ou eu.

Mas o tempo sacoleja os hormônios da gente e nos afugenta da inocência. Em 1973, eu tinha 12 anos. Interessei-me pelas músicas. Foi nesse ano que fui estudar na cidade e no dia que lá cheguei, com uma beradeiragem desmedida, fiquei encantado com a música de Evaldo Braga que se espalhava por todas as esquinas da roda gigante:

Sorria meu bem

Sorria!

Da infelicidade

Que você procurou…”

Logo, em seguida, “A desconhecida” de José Augusto:

Numa tarde tão linda de Sol

Ela me apareceu

Com um sorriso tão triste e olhar tão profundo

Já sofreu

(…)”

Depois, a vida ou a necessidade me impuseram outras “sofrências”. A música tomou outros rumos. Que pena! Tudo era tão brega e tão bonito!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB