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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

A felicidade

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publicado em 22/01/2023 às 10h51

 

      Carícias são próprias da felicidade, carícias me enchem de saudade. Caricias nunca quis casar com Seu Aborrecido. Nunca. Caricias são coisas belas, que saltam e chegam à pele.

     Volto a Gerald Thomas. Já estava acabando a entrevista, quando indaguei: Você está feliz, Thomas? “Você está Kubi? Vejo daqui do computador que você está usando uma camiseta com uma prancha de surf no teto de um Fusca, você é bonito e sei que você está feliz”. Thank you, Thomas!

    A felicidade não está na transa, o que existe ali, são corpos e prazeres, o gozo eterno que nada tem a ver com a felicidade. E o que é a felicidade? Não sei. Talvez a brisa. Tem mais a ver com o sentir, que muitas vezes não percebemos.

    A felicidade não bate na porta, entra sempre silenciosa e logo proporciona o êxtase natural, sem que ela precise marcar a hora de chegada ou saída. E vai embora pela mesma porta? Não, ela flutua. Eu já estive entre os vagos da beleza dela mesma.

     Felicidade repleta de cenas desenhadas, ilustrações, fotografias, cinema, e muitos outros motivos de interesse dela. Nós criamos o caminho. Um bom filme, a gente sai dizendo – não percam, é sinal que estamos felizes, assim como a canção que diz que na fotografia, realmente estamos felizes. Só na foto? Talvez.

    A felicidade não gosta da ansiedade, da pressa, da agonia, da mentira, da tirania e, nesses casos, ela se esgota mais depressa do que o Diabo esfrega um olho. Por que falei no Demo? Ah, ele não é feliz.

     Nenhuma obra de arte provoca a felicidade: a arte está no passeio do olhar, mas não é  felicidade. Só nós esperamos vê-la entre objetos. Pode até ser que Caravaggio tenha se sentido imensamente feliz ao pintar o quadro  (foto) “Rapaz com um Cesto de Frutas”, 1593.

     Felicidade exalta, nunca exata, mas não mostra a outra face e, quando pode destrói os socalcos e plataformas, degraus e muros que serpenteiam as várias vertentes do velho mundo. Não, a felicidade não é deste mundo. O homem não consegue esculpi-la na paisagem,  nem pintar na tela, tantas vezes galgadas e habitadas por homens e animais.

     Acho que os cães recebem maior quantia de felicidade do que nós.

    Ninguém consegue contemplar a felicidade, não existe o observador, o médico ou psicólogo que traga a felicidade, o que acontece muitas vezes é uma droga que simbolicamente amplia-se e convoca o homem para sair do escuro, para a zona da luz, para as aspirações outras.

     Felicidade não combina com frustraçãonem inveja, do que se pretende deste cenário ampliado dos imbecis, porque cá para nós, estamos cá dentro de nós, com imensas vontades enviadas por vários meios, mas os fins online nunca justificam os meios.

     Felicidade é uma varanda silenciosa, uma cadeira de balanço e, sobretudo, uma janela para a contemplação da gente que passa. Nada de marcar encontro com o arcaico, que ainda chega até nós.

     A felicidade é maior que o silêncio. Maior que o espocar do champanhe. Felicidade nunca foi solução, nem daqueles que percorrem seu o seu andar sem sair do canto.

     Felicidade não mora ao lado, não sustenta vagabundos, ela está em coisas tão particulares como a vida, da vida como ela é.

 

Kapetadas

1 – Um dia você tá jovem, e outro você não suporta jovens. Não deixe isso acontecer.

2 – Se você acha o máximo aprender a aceitar o fim dos ciclos, é porque não conheceu o auge que é a maturidade de você por o fim neles.

3 – Som na caixa: “A felicidade voltou para mim”, Gilberto Gil

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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