João Pessoa, 27 de janeiro de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Escrever é como chorar ou rir. Quando não, é limbo, o que é a mesma coisa; se poesia, poema ou prosa poética, é imponderação cercada das ponderações da linguagem: o pulsar das dores, o filosofar das dúvidas, o mistério do que não pode ser dito, por bendito ou por maldito que seja, afinal, o que interessa ao escritor, muitas vezes, é o que é insinuado, mesmo diante das verdades mais escorreitas e incontestáveis que a escrita ostenta.
Todas as poesias ou poemas possuem suas histórias e estórias. Umas, ostensivas; outras, ocultas. Um jogo de “esconde-esconde”; um carma de “mostra-mostra”, um fingimento que esconde o quer ostentar; a ostentação que explicita o quer fingir, porque é da natureza das conotações esse rebuscamento que encobrindo, revela; ou, descobrindo, protege.
Diz-se, então, que as poesias e os poemas, a prosa poética, sejam os revestidos em poucas palavras, sejam os glutões de palavreados, são herméticos, como as sendas da Filosofia. Que exagero! Nada mais cru e ostensivo do que o grito, mas todos sabemos que os gritos escondem todas as agonias de um mar em reboliço. Que exagero! Nada mais sutil e misterioso do que um grito, mas todos sabemos que os gritos são as fraturas mais expostas das dores do mundo! Todos os livros de poesia e poemas, talvez sejam esse grito, face e disfarce dos anseios da carne e da alma.
Todas as expressões da arte são buscas. E todos os artistas são instrumentos por onde escorrem o fluir da vida, a crueza da vida, a beleza da vida, os desapontamentos da vida, as realizações da vida, os amores da vida, as frustações da vida, sua angústia, o vazio e a plenitude da vida, tudo isso borbulhando em desespero querendo ser ouvido, visto ou lido, porque a vida só tem sentido quando tudo dela é partilhado.
A literatura tem o mistério das flores, seus espinhos e suas pétalas; os escritores também, mas com uma diferença: o que é espinho na flor, é compulsão nos escritores; o que é pétala nos escritores, é a arte de encantamento da flor. Esse é o jogo; essas são as regras dadas, um espelhamento, assim como a vida e a morte, irmãs siamesas que se precisam reciprocamente.
Eis, pois, que lhes apresento o escritor e a sua arte. O escritor chegou a mim quando fui seu professor de Direito tributário no Centro Universitário de João Pessoa, há cerca de dez anos ou um pouco mais. A sua arte guarda dentro de si as inquietações dos tempos maturados. Chegou com a paciência de quem ausculta o tempo e as suas opiniões com muito respeito, afinal, quase todos os escritores, sobretudo os que são encantados pelos poemas e pelas filosofias, são tímidos por excelência, apesar das suas extravagâncias com as palavras, às vezes.
Acho que já escrevi assim: o escritor é feitor de sonhos que têm dentro de si, incontrolável e pungente, um ígneo magma revoltoso, uma vontade sem peias de esparramar-se pelos espaços vazios, como a água que, por longos anos acumulada em um dique, certo dia rompe a sua estática e se espalha, em saltos e sobressaltos, por todos caminhos das suas memórias represadas. Foi assim o que aconteceu com o autor prefaciado. Encontrou o seu tempo. É isto, este livro.
É um livro voluptuoso em conteúdo e estilo. Poemas-prosas, prosas-poemas, cânticos, crônicas, poesias herméticas, estirão de palavras que se espraia por horizontes de sentidos diferenciados, uma concatenação de reflexões filosóficas, poéticas, angústia e anseio; potência e movimento; aberturas e desabafo; saudade, medo, paixão, sonhos, muitos sonhos, canção de amor e o vazio, afinal, os humanos não escapam da profunda solidão, sobretudo aqueles que veem amplidão a partir de pequenas frestas ou a minudência da existência sob a lente da Literatura, esse mar sem limites e sem peias, mas plenamente satisfeito pelas suas ondas que se quebram na areia branca, o seu destino.
É livro escrito por um sonhador, mas todos já sabem, os sonhos são continentes, todo o resto é conteúdo. Todo o resto é labirinto. Os labirintos são chamarizes para o desconhecido, por isso são tão atraentes e temidos. Esse livro é isso: os labirintos de uma alma que expõe o magma quente que habita a existência humana e que crepita em revolta até esparramar-se nua e crua como os vulcões fazem com suas entranhas borbulhantes.
No mais, diz o sonhador sobre ele mesmo:
“Sou a voz que canta, a fala que dança e o morro dos ventos uivantes! A paz e paciência, a quietude das páginas inocentes dos livros daquela estante. Sou equilíbrio do cosmo, o movimento de translação da rotação que gira em torno do amor. Sou a luxúria que derrubou o grande Aquiles e o apetite desgovernado de um jovem sedutor. Sou a fúria, a dor e a poesia que alimentam a tara e o entusiasmo criador de um neandertal numa terra de ninguém. As flores que choram rosas, e as histórias cheias de segundas intenções do rei Salomão em seus provérbios de alta satisfação. Sou a combinação da preocupação de Dartanhan, e a mesquinha opressão francesa que reina em pleno século XXI”
Pois, se você, caro leitor, deseja conhecer as danças de uma alma, boa leitura. O livro do Daniel Sousa é farto disso e foi um honra prefaciá-lo.
Francisco Leite Duarte Brasil
@professorchicoleite
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TURISMO - 19/12/2024