João Pessoa, 09 de fevereiro de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro

ÚltimaHora
Magistrado, colaborador do Diário de Pernambuco, leitor semiótico, vivendo num mundo de discos, livros e livre pensar. E-mail: [email protected]

Boas recordações

Comentários: 0
publicado em 09/02/2023 ás 07h00
atualizado em 08/02/2023 ás 19h54

Após o término das férias retomo este espaço e, como assunto ameno, trago, do celeiro da memória, reminiscências da infância, fonte de boas recordações. Fui criança em uma época desprovida de avanços tecnológicos; de poucos brinquedos fabricados industrialmente e onde  ruas e praças eram locais seguros para nossas atividades lúdicas. Todos nós tínhamos apelidos e não se fazia a menor ideia do que era bullying. Se apanhássemos na rua, em casa a reprimenda se repetia, para nunca mais se deixar ser agredido por colegas. Era uma maneira um tanto estranha de se educar, mas que, às vezes, funcionava.

Até hoje não sei o nome de batismo de muitos amigos de infância, pois eram sempre conhecidos pelos apelidos. Por onde andam e quais os patronímicos de Peido Branco; Araponga; Paturiã; Pai do Mangue; Marreta; Codó; Mocotó; Tamborete de Forró; Cara de Kombi; Mil e umas; Tá Peixe e Pé de Box? Outros já se foram e lembro de seus nomes: Metralha era Nelson Batista, Cristo da São Miguel era Clodoaldo e  Carreta do Pecado era Werton Soares.

Os adultos que também povoaram nossa infância compuseram personagens inesquecíveis. O guarda-noturno (figura que hoje não existe mais, substituído por empresa de segurança privada); os loucos pitorescos que nenhum mal causavam às crianças, mas que se irritavam quando seus apelidos eram apregoados: Vassoura!!! e logo vinha o ataque “é a mãe, filho da p…”, dentre tantos outros, que merecerem um texto à parte.

Lembro de uma moradora de minha rua, portadora de um tique nervoso, que consistia em balançar a cabeça, de um lado para o outro, como a fazer um gesto de negação. Sempre que ela ia conversar com minha mãe, eu ficava impressionado observando aquele trejeito que, com intervalos de poucos segundos, se repetia causando desconforto no interlocutor. Mas a gente se acostumava.

Certa feita, a tal moradora de tique nervoso, que era servidora municipal, foi para o ponto do ônibus esperar o coletivo. Estava sozinha na parada e avistou o veículo se aproximando. Fez sinal com a mão pedindo acesso, quando o motorista diminuiu a velocidade e quase estacionando, observou que a mulher balançava a cabeça ostensivamente, quase encostando o queixo no ombro direito e depois no esquerdo. Entendeu que aquela senhora houvera desistido de embarcar no ônibus, e prosseguiu seu curso, sem escutar os impropérios e diatribes que a pretensa passageira, proferiu ao perder a viagem.

Foi trabalhar a pé com a cabeça irritantemente opondo negaça.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB