Certa vez passei no Regents Park e ali estava uma escultura imensa que lembrava os moldes de madeira da minha avó. Lógico que mais que perfeito, pois o artista Kaws, pseudônimo de Brian Donnelly, une os mundos da arte e do design ao incluir pinturas, murais, grandes esculturas, arte pública e uma penca de produtos licenciados em seu trabalho, fruto de intervenções que, ao conter humor e humanidade, nos remete à precariedade de nossos tempos. O trabalho de KAWS nos espezinha e nos alerta que diante do medo e do ódio, devemos procurar sempre o outro e viver com compaixão para combater essa “era da solidão”.

Sua obra icônica, uma mistura de pinóquio com Mickey Mouse em forma humana e cansada, se chama “pequena mentira”, é gigante, assim como era minha vozinha, mas essa obra impactante não se encontra mais em Londres.

Eu realmente não entendia como essas coisas de arte funcionavam, mas conforme fui crescendo e aprendendo, percebi que havia mais magia na mentira da minha avó do que aparentava. Algumas coisas que ela me disse não eram verdade – como ela disse que se você jogar uma semente de girassol em seu chá, ela se transformaria em um dragão – e algumas coisas que ela não me contou: A mentira gigante nos destrói e ela começa da pequena mentira – essa é uma delas – a escultura de Kawls nos revela esse lado obscuro do ser humano, isto é, muitas vezes devemos parar de ver o lado bom das pessoas e enxergá-las realmente como são.