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Ana Karla Lucena  é bacharela em Direito pela Universidade Estadual da Paraíba. Servidora Pública no Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba. Mãe. Mulher. Observadora da vida.

Como num quebra-cabeças

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publicado em 13/02/2023 ás 07h00
atualizado em 12/02/2023 ás 18h38

Quantos pedaços de nós deixamos pelo caminho? Por onde ficaram? Eles desaparecem ou ficam presentes nos lugares e nas pessoas pelas quais passamos?

Outra questão importante: o que fica no lugar desses pedaços? Ficamos incompletos pelo resto da nossa existência ou vamos substituindo esses pequenos fragmentos por outras partículas? Nascemos completos e vamos nos perdendo ou nascemos em forma de rascunho?  Por vezes, tenho a sensação de que aquele pedaço que ficou pra trás não pode ser substituído por nenhum outro. Como uma peça de quebra-cabeças. Só aquela peça específica encaixa perfeitamente. Por mais que encontremos a peça perfeita, idêntica ou até melhor, simplesmente parece não caber.  Outras vezes, porém, sinto como se por mais que eu volte no caminho, recolha o pedaço e tente encaixá-lo no seu devido lugar, ele já não cabe mais.

Por que isso acontece? Por que deixamos esse rastro de nós por onde passamos? Por que levamos partes das pessoas conosco? É voluntário? Queremos, como João e Maria, encontrar o caminho de volta? Ou esse constante perder-se é algo inevitável? Talvez seja como um constante podar, pra que sejamos sempre renovados.

Mas, apesar dessa percepção, consigo enxergar um núcleo, uma essência imutável que permanece apesar das perdas e ganhos. Somos, sim, modificados pelo que vivemos. Somos frutos das nossas experiências. “Aqueles que passam por nós não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós.” Coisas, pessoas e eventos nos marcam. Todavia, o desenho original não perde seus traços, vai apenas recebendo cores, apagando traços antigos e recebendo outros.

Não sei se o vazio do que fica para trás pode ser preenchido; não sei se a sensação de completude um dia volta;  talvez ela apareça, definitiva ou  momentaneamente, talvez não. Mas o caminho está aí e temos que trilhar por ele. Os pedaços vão ficando. Não sei como chegarei do outro lado. Por enquanto, observo e tento entender. Às vezes encontro as respostas; outras vezes não. Só uma coisa é constante: o perder-se e o procurar-se.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB