João Pessoa, 22 de fevereiro de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Quando o primeiro bloco
passar na rua,
marcarei o passo
num verso comovido.
Rasgarei a máscara
de antigos carnavais
e me lançarei no perfume
das marchas agitadas
do coração
em lugar de desfilar
pela avenida.
Brincarei nos três dias
meu sonho do ano inteiro,
sem chorar na quarta-feira.
II
A folia que me assalta,
sem confetes e serpentina,
dispensa o Zé Pereira
e a fantasia.
Dispensa o Pierrot e a Colombina;
o frevo e a festa;
o samba e o susto.
Dispensa tudo que é três dias.
Na solidão tecida,
a folia que me assalta,
tem gosto de quarta-feira.
É carnaval feito de cinzas.
III
Não fui rei
de outros carnavais,
mas guardei a coroa
de anônimo folião:
saudade alguma do que passou.
Fiz do batuque cardíaco
O trio-elétrico que me levou
À vida
Em lugar de me perder na multidão.
Finalmente se estragou a fantasia.
E do samba que não fez escola,
eis o enredo que restou.
(Do livro, A geometria da paixão, 1986)
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OPINIÃO - 22/11/2024