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Marcos Pires é advogado, contador de causos e criador do Bloco Baratona. E-mail: [email protected]

Chapeuzinho vermelho

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publicado em 04/03/2023 ás 07h00
atualizado em 03/03/2023 ás 20h55

Vou contar uma das muitas presepadas de minha mãe.

Envolvida com o movimento da terceira idade e querendo animar as amigas, decidiu adaptar a história de Chapeuzinho vermelho para o teatro e construiu uma peça incrível. Na cabeça de Creusa Pires tudo era possível, tanto que a peça já começava com a mãe de Chapeuzinho no centro do palco dizendo para a plateia que estava muito preocupada porque o fundo da panela onde preparava as refeições havia caído. Em seguida lamentava-se: “- Ah, onde eu conseguirei um frandileiro para consertar a panela?”. Na verdade, referia-se aos funileiros, porém isso menos importa. O incrível é que do nada surgia em cena um ator apregoando: “- Frandileiro, frandileiro, conserto panelas”. A mãe de Chapeuzinho então perguntava a ele quanto custaria para consertar sua panela cujo fundo caíra e ele respondia que o serviço sairia por dez reais. Ela apelava: “- Mas dez reais é muito caro. E se eu lhe der o fundo?”. O funileiro olhava para a plateia, piscava o olho e respondia: “- Ah, se a senhora me der o fundo faço de graça”. E olha que essa era apenas a abertura da peça.

Para se ter uma ideia do que Creusa Pires criou em cima da história original, imaginem que o lobo mau era gay e não estava nem aí para a vovozinha. Apaixonou-se pelo caçador e sempre que os dois cruzavam-se no palco o lobo fazia uns trejeitos e repetia um bordão: “- Olha só o tamanho do cano da espingarda”.

Como todo mundo sabe, a história de Chapeuzinho vermelho tem somente 5 personagens; Chapeuzinho, a avó, a mãe, o caçador e o lobo. No entanto, depois da estreia daquela adaptação, muitas amigas da minha mãe que pertenciam ao seu clube da melhor idade tanto insistiram que ela criou oportunidades para todas participarem da segunda apresentação. Eu fui assistir, curiosíssimo em saber como ela iria colocar todo aquele pessoal em cena. Pois ela conseguiu. Tinha de um tudo; gente fazendo papel de arvore, de pedra e até de um lago (uma senhora deitada, coberta por um véu azul balançando languidamente pernas e braços imitava ondas). Eram 30 no palco.

Houve ainda uma terceira e última apresentação à qual não pude comparecer, mas soube que Creusa Pires inflara mais ainda o elenco e aproveitando umas velhas fantasias de carnaval somou ao elenco um Zorro, um Sargento Garcia e um grupo de índios. Não me perguntem o que faziam no contexto.

A peça teve vida curta, porém com certeza as atrizes (já oitentonas) ganharam sobrevida com a alegria de terem sido estrelas de teatro nem que por uma única vez.

Teria muito mais para contar sobre Creusa Pires… . Recordar é reviver e encher os olhos de saudades.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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