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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Erotismo

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publicado em 05/03/2023 ás 08h44

    Estive em São Paulo, a procura da escrivaninha de Mário de Andrade. Logo percebi que a cidade em que me aventurei a fazer mestrado na USP, nos anos 80, não me excita mais. Já o Rio, sinto pulsar – como um poema de Drummond. Não é à toa que a Cidade é chamada de Maravilhosa. Sexo e cidade, é como no mundo todo. Vamos lá: Sexo combina com amor? Claro que não, o amor é zelo, cama & mesa, cuidados, prole, mas anda à beira de um colapso.  

    Já me sinto cauteloso, mas nunca esqueci o que me disse velho do Leblon, Ascendino Leite – “Meu filho, a única coisa que a gente leva no caixão, é a libido”. Eu já nasci velho. Não tanto assim,  mas vou fazer 63 e sei que posso cavalgar até tarde da noite…

    Percebo quando uma pessoa olha querendo um afeto, eu dou, mas afetos são coisas do coração – no mesmo ritmo. e funcionam, mas às vezes estamos noutra esquina.

    Vivaz, mas estar no caminho dos 70, desperta em mim uma vontade de subir nas Asas da Panair, da canção Milton Nascimento e depois curtir uma sala de rebouco.

    Mas por que hoje tudo foca no erotismo? Milenar, meu caro. O Kamasutra com suas 50 indicações, não me deixa mentir.

     Erotismo é tão bom, tão bom, que dura pouco tempo. Depende. Mas a maneira de perdurar e ficar cavalgando, e querer mais, tem que ser legal para ambos. E as carícias?  São raros os homens que acariciam o rosto da mulher, da pessoa amada, antes, durante e depois do coito.

     Eu não sou daqui, eu não tenho amor, marinheiro só.

     O amor fala outra língua, o erotismo línguas diversas ou nenhuma, o erotismo fala através dos corpos e a tudo funciona. Tem aquela coisa antiga dos encaixes. Erotismo é “todes” a saber que estamos ali a fazer dos corpos um só corpo, esse feixe de impulsos radiosos das almas.

    O erotismo começa em qualquer canto, no conserto da pia da cozinha, que se  monta na mesa de jantar e ao redor chegam gemidos; poesias, oásis e a sede de se amar, se faz melhor. Os sinais de uma luta que não parece ter fim, amém.

    Lembro de uma namorada linda, sertaneja, quente, coisas transas nossas – era uma morena de endoidecer e eu queria todo dia, mas o dia sempre acaba; dançavámos nus e poderia ter sido a mulher da minha vida. Fui egoísta, vim embora pra capital com minha mala de couro fedendo e nunca mais a vi. O ser humano é feito de despedidas.

   Erotismos relâmpagos e servem-se dele deuses e Dianas, gritos nas trovoadas,

   Toma forças, fôlego, risca e se arrisca, permanece alerta a indícios, persegue-os.

   E vamos seguindo a canção do Nando Reis, com o Fusca lá fora e logo a tempestade de gozos, prendem-se e esquecem a vida afora, tantos beijos na boca, e  alguns rabiscos como se estivéssemos engatinhando e mais à frente um filho, damo-nos conta de que é sério, e de como ressoa, tudo fica belo, no balé da desordem amorosa. E tem a ver com amor? Claro que tem.

    Às tantas transas, tantras, marés, beira-mares, tantos lugares que reinamos, maracatus e somos nós,  assim como os animais, pertencemos a esse gozo impressionante – dos corpos, por esses indícios de muitas estradas e somos odara.

 

Kapetadas

1 – E esse março que não acaba, hein?

2 – Se a beleza é passageira, o espelho é o cobrador.

3 – Som na caixa: “Se Deus quiser, um dia acabo voando”, Rita Lee

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB