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Jornalista, cronista, diácono na Arquidiocese da Paraíba, integra o IHGP, a Academia Cabedelense de Letras e Artes Litorânea, API e União Brasileira de Escritores-Paraíba, tem vários publicados.

As aventuras do Flama   

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publicado em 08/03/2023 às 07h00
atualizado em 07/03/2023 às 18h16

 

  

         Há mais 60 anos o agente mascarado Flama, criação do jornalista Deodato Borges, iniciava suas aventuras em favor do bem, desvendava crimes e praticava a justiça. As aventuras do personagem eram ouvidas nas tardes de segunda à sexta-feira, pelas ondas da Rádio Borborema, de Campina Grande.  

         Depois do rádio, o personagem e seus amigos ganharam as páginas de gibis, cuja primeira edição impressa foi publicada em março de 1963. Mesmo conhecidas pela divulgação no rádio, a história em nova versão era aguardada com ansiedade. Como residíamos no sítio, não tínhamos acesso a esse tipo de publicação, mas o rádio trazia para dentro de casa as aventuras do herói que aprendemos a amar.   

         No horário certo, depois do almoço, sentava no tamborete ao pé do rádio “Canarinho” para viver com o Flama suas aventuras. O resto do dia, enquanto perambulava pelos campos ou fazia algum mandado de nossos pais, na imaginação, eu reproduzia o episódio, bolava cenas a partir do que ouvia e imitava a voz dos personagens, copiava seus gestos e às falas acrescentava ao que imaginava. Muitas vezes tudo se passava na paisagem do sítio ou cidade de Serraria, porque conhecia Campina Grande somente de ouvir dizer.  

         Quando cresci – nem tanto -, atuando na mesma profissão que o autor das aventuras – o Jornalismo -, contei a ele quanto me deliciava com as aventuras de seus personagens, falei do modo como absorvia os episódios. Deodato riu ao seu modo pacato e me respondeu:  

         – Nossa intenção era, justamente, criar na criança essa vontade de reproduzir o que escutava, de modo a desenvolver sua imaginação.   

         Afianço que Deodato conseguiu, pelo menos de minha parte, bulir com a minha imaginação e hoje percebo quando aquilo foi bom para mim.  

O quinteto da luta contra os perversos era formado pelo mascarado Flamdaigilante, seu ajudante Zito, o delegado Laurence, sua filha Eliana e Bolão, ajudante cômico do herói. Depois do sucesso como seriado no rádio, seu idealizador decidiu transformar as aventuras do Flama em revista impressa, a primeira no gênero em quadrinhos na Paraíba, constituindo-se em grande feito do jornalista paraibano. Ele seguia o estilo dos quadrinhos de heróis da época, que faziam muito sucesso no estrangeiro e em nosso país, recheados de aventuras, que consistia no combate ao mal. 

        No primeiro número da revista, em “Bilhete aos Leitores”, assinando pelo O Flama, o autor apresentava a nova versão das mais emocionantes aventuras de seu herói para mostrar que, onde houvesse crime, sempre teria um defensor da lei.  A ideia do seriado e da revista em quadrinhos era mostrar que o crime não compensa e que os maus serão castigados pelo que praticam e os bons são recompensados. A revista teve duração curta, pelo menos cinco números foram impressos, mas tiveram enorme aceitação junto às crianças, tornou-se referência e se constitui em marco na história dos quadrinhos paraibanos.  

         Neste mês, quando “As aventuras do Flama” completam 60 anos espantadas em forma de revista em quadrinhos, resta-nos homenagear seu criador, que escreveu o último capítulo de sua história em 2014, a partir de quando sua presença passou está nas fotografias, nos gibis, nas charges publicadas em jornais e nas conversas com os amigos. Deodato sobreviverá no personagem Flama. A arte imortaliza artista. 

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB