João Pessoa, 10 de março de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Parece que o tempo não passou na cidade de Ouro Preto, no interior de Minas Gerais. A arquitetura barroca é um charme só, com fontes, praças e casas deslumbrantes. Das igrejas, nem se fala: o fascínio da arquitetura e do ouro talvez sejam capazes até de converter fiéis. Lá dentro, não há consciência histórica que resista à atração da opulência. Fora dos templos religiosos, porém, é possível explorar minas, literalmente, e enfim questionar quantas pessoas foram escravizadas para extrair tanta riqueza.
Inobstante, a cidade é cheia de repúblicas universitárias, por causa da UFOP, dando a falsa impressão de que a juventude daqueles estudantes também não vai passar.
No Museu da Inconfidência, entre os exemplares originais de Marília de Dirceu, ouvi uma criança de 5 anos perguntar à mãe: “Quando vamos ver o Tiradentes?”, como se o inconfidente Joaquim José da Silva Xavier fosse da mesma linha dos Papai Noéis de shopping, à espera de seus fãs numa poltrona confortável. A mãe, pedagogicamente, respondeu: “Não vamos. Ele foi morto, arrancaram a cabeça dele e mandaram para o Rio de Janeiro”. A surpresa do garoto foi impagável. A história do Brasil é mais absurda do que a produção de brinquedos no Polo Norte.
Escrevendo, parece que o passeio por Ouro Preto é um bálsamo cultural. E é mesmo. Para realizá-lo, contudo, é necessário ter canelas dispostas. O sobe ladeira e desce ladeira em Ouro Preto é tão cansativo que virou verso de Murilo Mendes: “Minha alma sobe ladeiras,/ Minha alma desce ladeiras/ Com uma candeia na mão,/ Procurando nas igrejas/ Da cidade e do sertão/ O gênio das Minas Gerais.”
E foi com a alma nesse sobe e desce, numa cidade sem poste, iluminada pelos candeeiros, que mais tive luz.
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TURISMO - 19/12/2024