João Pessoa, 14 de março de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Esta interrogação ou constatação dos pais, infelizmente tem sido cada vez mais frequente nos últimos anos.
Testemunho esta aflição na minha rotina de trabalho como psicólogo, seja na clínica durante as sessões terapêuticas, ou nas palestras e debates com grupos de pais e educadores em geral, quando a temática drogas é a questão.
Nessas inúmeras e democráticas discussões educativas que participo com os mais diversos setores da sociedade civil organizada e entidades públicas, nos empenhamos na tentativa de traçarmos estratégias adequadas para melhor lidarmos com o problema, seja no tocante às ações de prevenção ao uso indevido de drogas, ou em relação à melhor forma de abordarmos e de tratarmos àquelas pessoas que já estão fazendo uso prejudicial dessas substâncias.
Uma das principais preocupações dos pais, mães e demais educadores e cuidadores que tenho constatado nestes encontros é exatamente em relação à desconfiança ou mesmo à certeza que o filho, filha, outro ente querido ou educando esteja se envolvendo com o uso abusivo de drogas.
Nestes relatos, geralmente eivados de angústia, percebo a dificuldade, tristeza, ansiedade, decepção e também vergonha, que muitos pais sentem ao admitirem estarem sendo vítimas desse problema.
São confidências que na maioria das vezes foram guardadas por anos, na esperança que o tempo resolvesse, e no momento que se encorajam a revelar tais segredos, o fazem com um misto de preocupação, raiva, remorso, medo e, repito, vergonha. E isso é natural, uma vez que todos nós, pais e mães, ao procriarmos, idealizamos o modelo de cidadão ou cidadã que queremos e almejamos que seja a nossa cria. Assim, ao vê-la enveredando por caminhos perigosos e diferentes daqueles projetados por nós, inevitavelmente somos acometidos dos mais decepcionantes e perversos sentimentos, inclusive de auto culpabilidade, indagando a nós mesmos em que ponto foi que erramos.
Quero dizer a estes pais e mães, que a humanidade até hoje não conhece a fórmula infalível da boa educação. Apesar de sermos sabedores, que uma família bem estruturada, que cultiva o diálogo franco e transparente entre seus membros, valores morais, afetividade e respeito mútuo, geralmente é sempre um porto bem mais seguro, não vai aí nenhuma dosagem de certeza de que tudo dará sempre certo. Pois mesmo estes filhos e filhas, oriundos de famílias alicerçadas nos princípios já citados, podem enveredar de forma esporádica ou rotineira por comportamentos reprováveis socialmente e até mesmo ilegais, incluindo o uso indevido de drogas.
Precisamos lembrar que o(a)s adolescentes e jovens adulto(a)s, são dotado(a)s de uma carga de hormônios mais elevada, portanto, a impulsividade, a busca de desafios e de novas experiências e até mesmo uma elevação da agressividade são comuns nesta faixa etária. Ademais, as pesquisas mostram que a maioria dos seres humanos da sociedade moderna, em algum momento das suas vidas, especialmente na juventude, vai arriscar contrariar alguma(s) regra(s) sociais, inclusive fazendo uso indevido de drogas lícitas ou ilícitas. Mas isso não é “o fim do mundo”, pois, geralmente, tal comportamento é naturalmente abandonado com o advento da maturidade. Contudo, isso não quer dizer que os pais devam ficar “parados”, esperando em “berço esplêndido” que isso aconteça, haja vista o risco que esses correm. Assim, ao constatarem mudanças significativas no comportamento do(a) filho(a), do tipo maior agressividade, troca do dia pela noite, mudança do grupo de amigos, segredos exagerados, mentiras frequentes, abandono do trabalho, da escola etc., os pais devem se esforçar e aproximarem-se mais ainda desse(a) jovem, tentar estabelecer diálogos, sem acusações, julgamentos precipitados ou terrorismos, tentando saber o que verdadeiramente está acontecendo, pois nem sempre é problema relacionado às drogas. Costumo dizer que o pai e a mãe ainda são os (as) melhores psicólogos (as) e que o diálogo franco, sincero e sem julgamentos é o melhor remédio na educação sobre drogas. Por vezes é um “remédio” cujos efeitos esperados são relativamente demorados, mas costumam ser muito eficientes. Todos os esforços, alicerçados na paciência e na persistência devem ser empreendidos pelos pais para que o diálogo entre estes e os filhos não seja interrompido, mesmo que uma dose extra de paciência seja necessária. Se, mesmo assim, o problema persistir, procurem ajuda de um profissional especializado, mas nunca desistam do seu filho.
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TURISMO - 19/12/2024