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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

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publicado em 17/03/2023 ás 07h00
atualizado em 16/03/2023 ás 21h40

 

Era mais novo do que eu. Uns dez anos ou um pouco mais. Lembro-me dele pequenino, meio rechonchudo, Totonho, Toinho. Íamos ao açude de Maroca pescar piabas e outros sonhos nas águas cavilosas daquele açude bravo.

Tínhamos medo, mas como éramos inocentes, nos escondíamos debaixo da bravura dos garotos, afinal em tempos de vacas magras, uma piaba assada com angu era a refeição mais digna dos sobreviventes daquela terra seca.

E cresceu por dentro do tempo e dentro do tempo eu sumi no mundo, buscando outras piabas nos alfarrábio das necessidades. Ele ficou. E se instalou ali, na zona rural como um desses pés de juazeiro teimosos: a mesma terra, a mesma seca, a mesma casa e uma sina dessas que pouca gente resiste quando a bola do mundo é a solidão por todos os lados da existência.

E o tempo deu tantas cambalhotas nas nossas vidas. De repente, quando eu pensava que Antônio ainda era o mesmo garoto de falar rápido e manso, dominado pela ilusão da vida, mostrou-se ciente de muitas letras e de alguma consciência política. Que bravo, que sorte, que surpresa!

E foi resistente e foi diligente, mas aceso dentro de si, o pulso forte da solidão pôs o laço caprichoso das sinas tristes em férrea perseguição dos inocentes. Impossível não se cair no reino das tentações pungentes.

A solidão mata. Como só me lembro dele pegando piabas no açude de Maroca, para mim a morte é uma distância falsa, ilusão dos sentidos, deve ter mergulhado nas águas frias do açude velho e lá se agarrado ao sagrado mistério da vida onde só existe peixe grandão daquelas estórias de trancoso, um colosso bom demais para se comer cozido com as melhores iguarias que o Saco Sinhazinha há de produzir.

Se há de se dizer mais alguma coisa, meus mais profundos sentimentos, meu compadre Expedito Leite e  minha comadre Socorro Andrade. Que a energia da bondade irradie sobre a vida de vocês a paz necessária da compreensão  e que os mistérios dessa vida sejam bálsamo das suas dores.

@professorchicoleite

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