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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Transa oscilatória

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publicado em 28/03/2023 ás 07h00
atualizado em 28/03/2023 ás 07h28

Passaram-se anos. Muitos.

O sexo apitando no meio da tarde e as mal traçadas linhas das cartografais do desejo, entre o bem o mal, pela mesma razão de muitas outras sensibilidades que fazem da nossa vida uma transa oscilatória, mas ainda estamos aí nos formatos duplas da abstração. Acho que estamos na 30ª temporada.

Nem tudo flutua, embróglio entre contrastes e confrontos, tato cópula e cólera se espalha.

Outro dia vi Roberto Carlos num navio cantando pertinho dos tripulantes, achei o rei longe da estrada, como se depois dos 80 anos, RC quisesse viver o que não viveu: buscar o gozo perdido. São lindas as canções do rei, uma das preferidas, os botões a blusa que você usava e meio confusa desabotuava.

Tantas estradas eram só estradas, a de Santos, que não deu em nada.

O mata-mata dos corpos acontece numa rapidez assustadora. A morte não gosta da velocidade. Nada ligeiro presta.

Estradas já não ligam mais amores, gestos batidos de muitos anos. Estamos todos no eufemismo, sem as fontes para matar a sede. Eu tenho fome de viver.

Sombras para descanso já não existem. O sol castiga e a chuva leva, não lava, com a força que arrasta e destrói cidades e sonhos. Aí é outra transa devastada.

A minha rua perdeu toda a poética, de quando o muro era verde e a lonjura dava evasão aos meus pés, que desviginavam a madrugada. Hoje, a pressa me impede de ver a paisagem. Essa transa já morreu.

Outro dia atravessando o Pavilhão do Chá, uma jovem me chamou de “meu bem” e eu só vi sua sombra, um traço que se funde fora do eixo e algo me lembrou que Amélia não é mais a mulher de verdade.

Estou só na geografia, numa odisseia  permanente e vejo camiões e carroças, gente que já aposentou o sexo, de todos os lugares nos cruzamentos, a dor dos famintos que já não pedem piedade. Uma coisa e outra, o nonsense e o primitivismo.

Há quem diga que eu escrevo coisas loucas, simplesmente por não querer sair da bolha.

Rápida no gatilho, a vida é mais tediosa para quem não se liberta. Um desassossego, uma saudade danada, um dia na frente e outro atrás e nada se resolve. Zabé come Zumbi, Zumbi come Zabé

Semáforos, multas, rotundas, coxas macias e outros transas dessa vida oscilatória.

O ponto final é uma das maiores mentiras que a gramática nos conta.

O sexo ainda é a maior parte dessa equação.

Kapetadas

1 – Não se mata o tempo jogando o relógio fora.

2 -Toda vez que perco, saio ganhando.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB