João Pessoa, 29 de março de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Há luz
nos rebocos
da parede
de minha casa.
Minha casa
tem sombras
e vigas,
buracos acesos,
colunas arruinadas.
Minha casa
resiste ao mistério
do tempo.
Toda geografia
se dilata dentro
de minha casa.
Aquele jasmim,
sob a vértebra do muro,
é minha bíblia
vegetal.
Harmonias
de velhas canções
pulsam nas ruínas
e em tudo que é
inacabado.
Estou tão triste,
mas a tristeza me salva.
Num domingo qualquer,
dar-me-ei o tiro perfeito.
Eu, que fui feito
dessas coisas menores
e anônimas.
Uma hortênsia
que suplica
a lâmina do céu,
um ato de gratidão,
aquela resposta
exata,
um porre na sexta
para comemorar
o perdido.
Houve
sempre na minha vida
uma diáspora,
uma fera
à minha espreita,
uma mulher escorreita
como o último
vocabulário.
E nem era silêncio
nem significação.
O bom
é que soube
sempre
cuidar de meus males,
das mazelas de sabor
metafisico.
Beijo nenhum
que me davam
era mais doce
que a contingência
em Kierkegaard.
O olhar, então,
ancestral
como os protocolos
da dor,
era só amor e só amor
num verso inútil.
Fiquemos por aqui,
enquanto a morte tarda.
Hoje
choveu muito
em minha alma.
Minha cidade
era só água.
Raios, relâmpagos
e trovões
eram o idioma
natural.
Meu mal,
nunca ter topado comigo.
“Cemitério Vivo”
NESTE sábado, 1º de abril, o escritor e articulista Hildeberto Barbosa vai lançar o novo livro “Cemitério vivo”, com selo da Editora Ideia, às 10h30, no Bistrô 17, ao lado da Catedral de Nossa Senhora das Neves, (Rua General Osório, Centro). O poema “Testemunho” – tema da sua coluna desta quarta-feira, é um dos que embelezam a obra. (KP – editor de Opinião do MaisPB)
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OPINIÃO - 22/11/2024