João Pessoa, 02 de abril de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Kubitschek Pinheiro – MaisPB
A literatura, com cereteza, muda a vida de quem tem o hábito de leitura. E muda pra valer. Assim é o nosso encontro com a pessoa que vai mudar nossa vida, ou até piorar e tal pessoa pode estar nos lugares mais inusitados, inclusive nas páginas de um livro. Já pensou se apaixonar pela personagem Madame Bovary do romance de Flaubert. chamado de “romance dos romances”. (?)
Vamos em busca de Proust. A 1ª edição econômica do livro “Clara lê Proust”, de Stéphane Carlier, é uma declaração explicita de amor ao poder dos livros e da arte. O livro tem o selo da Editora Record.
Os dias passam devagar na Cindy Coiffure, numa ruela de uma cidadezinha em Saône-et-Loire, na França e o salão de beleza sobrevive graças a uma clientela cativa com média de idade perto dos setenta anos e a uma rotina que nem é rotina, é o banal dia-a-dia.
Vamos nos adiantar no tempo – o lugar é administrado pela senhora Habib, uma mulher melancólica que sente saudades de sua juventude em Paris e acredita que o problema do salão é o nome velho e datado. Todos os dias o lugar recebe a visita de Lorraine, dona do bar-tabacaria da esquina que sempre aparece segurando dois cafés e contando os dias para as próximas férias.
Na Cindy Coiffure trabalham Nolwenn, com a expressão sempre neutra, exceto quando vê algum vídeo divertido no celular; Patrick, que trabalha aos sábados e nos feriados, cuja vida de divorciado com filho não é nada fácil, mas que encontra prazer em desenhar mangás e ouvir heavy metal.
O destaque é para Clara. Seus dias no salão são sempre banais, ela tem um namorado bonito que parece um príncipe da Disney, Flynn Rider e um gato que não se deixa acariciar. Ela se sente cada vez mais distante do mundo, da vida, entediada com a rotina, até o dia em que é apresentada ao homem que vai mudar a sua vida: Marcel Proust. Isso mesmo, o escritor francês que nos colocou rota “Em Busca do Tempo Perdido” Cativante, Clara lê Proust a busca da história de libertação e uma grandiosa homenagem ao poder transformador dos livros. Se fosse assim na vida real, seria bom demais.
O MaisPB conversou com o autor, o francês Stéphane Carlier, que está contando os dias para conhecer o Brasil, lançar o livro foi lançado que já atrai muitos leitores.
MaisPB – Seu livro “Clara lê Proust” traz a história da cabeleira que descobre a obra de Proust. Como veio essa ideia?
Stéphane Carlier – Por acidente! Eu estava passeando pela linda praia de Sauveterre, na região francesa de Vendée, onde minha mãe mora, e pensei: devo contar a história de uma menina que não é uma rato de biblioteca, que não gosta de livros e se apaixona por Proust. Achei que daria uma boa história. Consegui o título na hora: Clara iluminou Proust. No início, Clara trabalhava em um McDonald’s. Na hora que voltei pra casa da minha mãe, troquei por um salão de cabeleireiro que eu acho melhor.
MaisPB – Esse é seu primeiro livro publicado no Brasil – como se sente vendo sua literatura chegando aos leitores brasileiros, através da Editora Record?
Stéphane Carlier – É incrível! O Brasil é um país tão grande! Ainda não acredito que meu livro pode ser encontrado nas livrarias brasileiras! É muito bom, sério! Mal posso esperar para ver como os leitores brasileiros vão reagir a isso. A história se passa em um pequeno salão de cabeleireiro, em uma pequena cidade francesa. É impressionante pensar que chegará a leitores de um país tão diferente!
MaisPB – Na verdade, a história de Proust não foi lá tão boa né? Morreu cedo, bem doente, mas entra aí a beleza da obra “Em Busca do Tempo Perdido”. Vamos falar sobre esse viés?
Stéphane Carlier – Bem, Proust se sacrificou pela literatura, mas seu sacrifício não é igual a nenhum outro: tornou-o imortal! Tantos livros foram publicados no ano passado para o 100º aniversário de sua morte. Você sabe, ele é como a Torre Eiffel ou a Champs-Elysées, um tesouro nacional. E eu não acho que ele estava infeliz. Passou a segunda parte da vida fazendo o que mais gostava, que era escrever, sabia que estava realizando algo importante, algo que moveria leitores por gerações.
MaisPB – Quando li Proust na adolescência, fiquei imensamente curioso, com os textos belos e parágrafos enormes sem vírgula. Você teve essa sensação?
Stéphane Carlier – As frases de Proust são bastante longas, é preciso um esforço para se acostumar com elas, mas, uma vez que você o faz, uma vez que você pega o ritmo, a respiração muito peculiar, sua beleza pode dominá-lo. O estilo de Proust é tão precioso que suas frases são como jóias. Para mim, lê-lo é como ioga, você precisa entrar em um estado muito especial de relaxamento para se divertir.
MaisPB – Ex-funcionário do Ministério das Relações Exteriores da França, você morou três anos em Lisboa, depois de ter passado por Nova York, Los Angeles e Palm Springs, nos Estados Unidos, e por Nova Déli, na Índia. Atualmente mora na Borgonha, na Itália. Preteante conhecer o Brasil, nossas praias, nossa gastronomia..
Stéphane Carlier – Nunca estive no Brasil, com certeza está na minha lista de desejos. Quem sabe? Talvez eu seja convidado para promover o livro.
MaisPB – Você conhece a nossa literatura – Machado de Assis, Drummond, Jorge Amado, Clarice Lispector e outros?
Stéphane Carlier – Confesso que não tenho lido muito a literatura brasileira. Estou mais familiarizado com sua música e seu cinema. O filme “Central do Brasil” é incrível, “O Beijo da Mulher Aranha”, também. Há alguns anos, gostei muito de um filme chamado “Madame Satã”, me impressionou muito.
MaisPB – Muito bom, um homem vai ao salão de beleza e deixa para trás um exemplar de “Em Busca do Tempo Perdido. Seria “A Sombra das Raparigas em Flor?
Stéphane Carlier – Na verdade, foi o Caminho de Swann, que é o primeiro livro de Em Busca do Tempo Perdido.
MaisPB – Conhece a nossa música? Caetano Veloso, Chico Buarque, Jobim, Bossa Nova, Samba ?
Stéphane Carlier – Ah, sim! Sei muito sobre Caetano Veloso e sua irmã Maria Bêthania. Fui a um show do Veloso em Los Angeles no início dos anos 2000, foi muito bonito, muito bom! Eu também gosto de canção “Grito de Alerta”, uma música que Maria Bêthania canta e eu escuto de novo e de novo. Eu realmente acho esses dois geniais.
OPINIÃO - 22/11/2024