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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

O menino cresceu

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publicado em 04/04/2023 às 07h00
atualizado em 04/04/2023 às 04h52

Meninos venezuelanos nascem e crescem no Brasil.  São laços endogâmicos.

Meninos morenos lindos vindos de ventre livres, dão as caras nos sinais da cidade, com as mães vestidas de colorido. Meninas ficam em casa.

Às vezes, meninos de peito.

Meninas são mulheres mais cedo.

Meninos que nunca vão poder ver o nome na placa de formatura. O pacto, o taco, o soco, que se diz respeito, chega invisível, insípido a escoar entre sinais que abrem e fecham, sem nunca refazer um novo caminho.

Meninos de cócoras, brincam no chão, as mães correm para um carro que apita. Dois reais. Não passa disso.

O fio da vida bruta, que arrasta essas famílias prende um ao outro, homem, mulher, menino e menina.

Meninos de rua não existem mais, agora são meninos de outros países. Os meninos de rua já cresceram e morreram.

Passam o dia na rua e voltam na manhã seguinte. Meninos venezuelanos não pedem, servem de companhia. É o estandarte da mãe.

Deve ser por causa do sangue, da fome, da raiva.

Meninos acentuam a cena, mas nem sabem do roteiro.

Meninos são lindos, Miguel, Antônio e Lucas.

Tal como na poesia, na gelosia, temos de concordar com a rima, muito embora nunca tenhamos os versos da salvação.

Meninos se esticam e abrem as bocas com sono, de manhã cedinho no sinal da Praça Castro Pinto, um par de incompreensões a propósito disto. É uma coisa doida.

Esses meninos nunca foram de engenho, nunca um João Cabral de Mello Neto, um Zé Lins, uma pena que não possam ir à escola.

Quase comovem. Quase não comovem. Ninguém dá um pio.

Sorrindo, como todos nós, ao abandono, os meninos crescem e desaparecem, já nos primeiros mênstruos.

Meninos mendigos.

Menino Vitor, menino crescido, menino feliz.

Kapetadas

1 – Não se mata o tempo jogando o relógio fora.

2 – É bom a gente desistir de esquecer o inesquecível e conviver de boa com a lembrança, espero ter ajudado.

3 – Som na caixa: “O menino é eu/O menino sou eu”, Caetano Veloso

Fotos KP

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB