João Pessoa, 07 de abril de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Aos domingos, tão ruim quanto não ter fartura sobre a mesa é não ter fartura ao redor da mesa. Até o maior fã da própria companhia é assombrado pela perspectiva de não ter com quem compartilhar uma refeição no final de semana. De segunda a sábado, música, podcasts e telefonemas até preenchem meu vazio social de quem andou para longe do chão de nascimento. No domingo, não dá.
Falta um tempero muito específico, não exatamente do banquete. Descontextualizo Osíris, o deus egípcio, do Nilo para os rios invisíveis da metrópole mineira e imagino a divindade me julgando. Primitivamente, Osíris foi a deificação da força do solo. O deus fazia a vegetação crescer, inventando, consequentemente, a agricultura. Osíris criou toda uma técnica e ensinou aos egípcios para que eu, logo eu, não me servisse de grãos (nem de gente) no sétimo dia.
Se de gente, muitas vezes, não me sirvo por falta de oportunidade (como é difícil recomeçar a vida em nova terra!), de grão, não me sirvo aos domingos por falta de habilidade. A panela de pressão me é tão assustadora quanto uma página em branco. Só João Cabral de Melo Neto para equiparar as atividades da colher e da caneta: “Catar feijão se limita com escrever: / joga-se os grãos na água do alguidar / e as palavras na folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar.”
Posso até não deixar o feijão de molho, mas aqui estou, colocando mais água na palavra, para ver se engrossa o caldo.
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TURISMO - 19/12/2024