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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

A quarta face: o avatar do avatar

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publicado em 07/04/2023 ás 07h00
atualizado em 06/04/2023 ás 21h54

Todos dizem que somos múltiplos, um em muitos, singularidades diversas amalgamadas em um só indivíduo. Minha mãe seria direta, diria que temos duas caras, três, quatro, ou mais, dependendo do interesse escuso do lobo escondido na pele de cordeiro.

É fato. Cada vestimenta escolhida, caso sorriso largado no rosto, cada entonação de voz, gesticulação apropriada, cada palavra, uso ou desuso de certas regras, tudo perfeitamente articulado para nos passar por alguém que se distancia léguas da nossa realidade, aquela tão esquecida, que jamais nos foi dado conhecê-la por completo, mesmo quando soltamos o choro diante do espelho fingindo ser nós mesmos.

Pois, a coisa piorou. Se, de repente, você se deparar com alguém portando a sua peculiar forma de ser e de estar, enganar-se e ser enganado, sorrisão aberto, dentes arreganhados, estratégias afiadas, mal caráter envelopado numa embalagem pós moderna, pode desconfiar. Pode ser mais uma versão perfeita de você mesmo.

Um avatar seu, avatar de avatar, daqueles mais autênticos da sua dupla face que sempre andou por aí, aquele ser rabugento dentro de casa, mas travestido em madre Teresa de Calcutá; aquela figura misógina, mas de uma gentileza pública com as mulheres, o ser democrático no discurso, o homem de bem com cheiro de santidade, homem íntegro, corruptor do sistema de justiça, ou do regime democrático.

Essa nova configuração é bem mais convincente do que aquela personalidade tão bem conhecida por você. Essa foi fabricada pela inteligência artificial e, caso porte alguma disfuncionalidade facilmente reconhecível, não é problema ou defeito de fábrica, mas a máxima perfeição da sua imagem e semelhança.

Ela é tão perfeita, que o holograma, à semelhança de você real, com sua dupla face, cria também, a dupla face do avatar, tudo para se parecer o mais fiel a você mesmo.  Sei não, viu. Conheço gente que são autênticos poliedros. Imagine-se agora, nessa época em que a humanidade está na ponta do cabo das tormentas, encalacrada em suas peripécias tecnológicas e morais. Deus nos acuda!

@professorchicoleite

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