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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

A imaginação do pouco

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publicado em 08/04/2023 às 07h00
atualizado em 08/04/2023 às 05h25

Eu revivo. Mas não vivo do passado.

Egresso (essa palavra é muito cafona), de muitos sertões sem veredas, onde as tragédias não eram tão assustadoras como hoje, a não ser um noivo que matou a noiva (e não eram nervosos) e depois se matou. Foi a necessidade da negação de algo muito triste. Isso há muito tempo.

Eu vi um filme lindo, triste, “Living” (de Oliver Hermanus) que fala do mistério da vida, da morte e do tempo.  Adaptação britânica de um filme chamado Viver do genial cineasta japonês Kusosawa –  é muito emocionante e nos mostra o fim de uma estrada dentro de um universo de possibilidades. Entretanto, o mais importante é seguir vivendo. #living

O quê? Não sei o que é, talvez a vontade de encher o espaço de presenças, gestos, vozes, perguntas, tantas coisas que não cabem mais na vida da gente, talvez um canto flamenco, seja menos triste que um blues.

Primoroso, João Cabral de Mello Neto,  quando conheceu Drummond, era um efebo, o mais andaluz do pernambucalismo, pai do velho Severino sem a fama de ciganos ou abúlicos. Estou na metade da biografia dele, escrita por Ivan Marques, dotado de uma história impressionante. Sim, nós somos impressões.

Como não sofrer por saber que o anjo Jomard Muniz de Brito está aflito, sua alma canta em silencio, quando ele não compreende mais as coisas, não sabe onde está, não sabe se existiu, talvez na barafunda.  Os Atentados Poéticos de Jomard estão dentro de mim.

Tudo dói, como se as canções, constelações, estivessem também em despedidas, mas tudo soa a uma saideira, um comboio que nunca parte, na agonia de sua gente.

Dois amigos estão no mesmo ângulo: um gosta de poesia, o outro da boa vida,  mesmo se os versos do primeiro nos dizem que a vida é algo incompreensível e o outro, automatizado, já lhe acompanha uma saudade, avisado e avisando que o rio ainda não passou em sua vida.

Carne, óxido, a haste de emoções, dobradiças das portas escancaradas, neste campo sem sol, como num sonho, ligado a dor do mundo, por um assobio, ou ao longe das palavras com as quais muitos se vestem.

E  tem aquilo que chamamos de assertiva – viola, furria, amor, dinheiro não. Vai. Voa, se manda e vai deixando para trás o resplendor do contrário, a vida do avesso mais belo de que O Leiteiro de Drummond, ou as formas que já não reconhecemos em Clarice Lispector.

A imaginação do pouco, ainda muito para nós entre outras revelações, para as quais antes ou nunca estávamos ou estamos preparados.

Kapetadas

1 – Uma vez, ao ser perguntado sobre o motivo do assassinato de John Lennon, Mark Chapman, o homem que atirou 5 vezes no cantor disse: “Fiz pela fama”. Assassino merece punição e não holofote.

2 – Como criança pode acreditar em coelho de Páscoa? – Amigo, tu acreditavas que colher era avião. Olhe o aviãozinho…

3 – O título da coluna de hoje é de verso de João Cabral de Mello Neto

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