João Pessoa, 13 de abril de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
O tempo passa e a gente vai acumulando amizades e conhecendo pessoas. Muitas continuam presentes no seu dia a dia, outras por contingências várias, desaparecem. Quem lida com o público em decorrência da profissão, é muito comum ser mais reconhecido do que reconhecer as pessoas.
Em sala de aula (foto) já ensinei a uma turma com sessenta alunos. Ou seja, são cento e vinte olhos lhe fitando e gravando sua fisionomia. Ser bom fisionomista nunca foi o meu forte, tanto assim que sempre falava aos estudantes quando me encontrassem em algum lugar e se eu não os cumprimentasse, não era por orgulho, e sim por não tê-los reconhecidos naquela oportunidade.
Em certa ocasião eu estava olhando as vitrines das lojas de um centro comercial (ou shopping, como queiram), despido do sisudo e incômodo paletó e gravata – indumentária imposta ao magistrado ante a “liturgia do cargo” -, trajando apenas bermuda e camiseta e nos pés chinelas havaianas, quando percebo uma bela mocinha me fitando com certa admiração. Contava àquela época uma idade em que não se pode ser tão otimista para se achar jovem e nem tão pessimista para se sentir velho. E pensei com meus botões: será que eu estou com essa bola toda? Diante da insistência daquele olhar de encantamento (assim imaginava), e já prevendo o que diria minha esposa – que estava a poucos metros, distraída com outras vitrines – se visse seu marido enxerido a xavecar uma menininha, fiquei estático. A jovem se aproximou e abrindo um sorriso, proferiu a frase que eu temia ser uma cantada: “Professor! Quase não o reconhecia com essa roupa! Está muito diferente. O senhor só anda engravatado.” Cerrei os olhos e respirei aliviado.
Beijou-me a face e saiu numa cadência que realçava as curvas de seu corpo, num requebro molejado típico das mulheres brasileiras. Refeito do susto, fui tomar um chope.
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TURISMO - 19/12/2024