Na trajetória dessa vida a gente se depara com cada tipo de pessoa. Às vezes temos dó, outras nos são indiferentes, algumas até nos irritam, mas, como entoa o dito popular: faz parte. Nosso tempo está ficando cada vez mais curto; os dias com suas vinte e quatro horas já não bastam para tantas atividades e pretensões: trabalho, família, lazer, projetos, leituras e livros na fila de espera, e… pessoas que nos tiram o sossego.

Por esses dias andei às voltas com a leitura do Livro do Desassossego, do poeta Fernando Pessoa. Sim, tal qual o bardo lusitano, sinto necessidade de ler os clássicos, muito embora os milhares de contemporâneos anseiem nas estantes por serem lidos. Lá, Pessoa nos diz que “Por mais que pertença, por alma, à linhagem dos românticos, não encontro repouso senão na leitura dos clássicos. A sua mesma estreiteza, através da qual a clareza se exprime, me conforta não sei de quê. Colho neles uma impressão álacre de vida larga, que contempla amplos espaços sem os percorrer. Os mesmos deuses pagãos repousam do mistério”.

Foi justamente na sala de espera de um consultório médico que, absorto na leitura de clássico do Pessoa, senta-se ao meu lado uma pessoa que, não querendo ler as revistas desatualizadas que sempre ornam as mesas desses consultórios, espicha o olhar para meu livro e, ao identificar o título e o autor, de chofre me pergunta:

– Você conhece Fernando Pessoa?

Sem querer esticar a conversa, para não interromper a leitura, com ironia respondi:

– Pessoalmente, não.

O intruso interlocutor, não se conformando com minha resposta, nem sacando o tom irônico, não se deu por rogado e retorquiu:

– Eu também não o conheço, mas na minha próxima viagem ao Rio de Janeiro irei à sua casa. Dizem que ele é gente fina e recebe todos seus fãs com muita atenção.

Foi o suficiente para tirar meu sossego e fazer-me desistir de prosseguir com a leitura e, consequentemente, remarcar a consulta. Esse é o tipo de pessoa que não me apraz.

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