João Pessoa, 28 de abril de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Não é como se eu nunca tivesse sentado em uma arquibancada de futebol. Só nunca havia sentado nela com a intenção de assistir a um jogo. Até a última semana, minha experiência em estádios se limitava a eventos musicais sediados sobre o gramado. Depois de ver o Cruzeiro derrotar o Grêmio, na série A do Brasileirão, continuo sem poder dizer que sentei na arquibancada para ver o jogo. A energia da torcida é tanta que ninguém para na cadeira.
Mesmo por fora de qualquer escalação, a cultura da bola até me interessa. A biografia de Ruy Castro sobre Garrincha (foto) já me arrebatou pelo título, “Estrela solitária”. O último filme ao qual assisti ano passado foi a cinebiografia de Heleno de Freitas, centroavante bonitão do Botafogo que morreu muito jovem, delirando, em Barbacena. No fim, mais me importa o que batuca embaixo do peito do que os títulos bordados sobre ele. Não dizia Nelson Rodrigues que, no futebol, o pior cego é o que só vê a bola?
Quando o juiz apitou e aquela esfera disparou por entre as canelas, em parte com vida própria, em parte coreografada pelos jogadores, foi difícil manter os olhos só na bola. Havia torcida organizada. Hinos por aprender. Um senso de comunidade que só uma paixão em comum pode proporcionar a completos estranhos. Se já esperava algum encanto do evento futebolístico, me faltou domínio prático: podiam ter me avisado que quando a bola entra na rede, a comemoração é tanta que chove cerveja (infelizmente, dessa vez, por cima do meu casaco branco).
Sobre Leônidas, o “Diamante Negro”, o poeta Sérgio de Castro Pinto escreveu: “a bola / pedalas / com os pés / e de ponta-cabeça / levitas: / beija–flor / que sorve / o néctar do gol / e embriaga a torcida.” Não precisa de bicicleta para embriagar a torcida. Qualquer gol já inebria.
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OPINIÃO - 22/11/2024