João Pessoa, 29 de abril de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Ao contrário do inesperado, o rapaz sentou do meu lado, um encantador rapaz, na aula de arte da professora Zarinha. Ele usava um sapato xadrex. Elogiei e nada além. A natureza é só uma (p)arte da equação desta cena. “Qual o número você calça, K? indagou Dalmar Medeiros.
Nas aulas de arte da professora Zarinha, a gente vê desaparecer o mundo pequeno dos inquilinos de Jesus, a vida pacata e brilhos abandonados – tudo é bem intenso na sala e penoso na calçada da praia.
Dalmar faz parte dos novatos e eu, igual a ele, neste périplo vindo de outra composição, há mais 40 anos, só fazemos o bem e crescermos – estamos ali no ZCC, que é outro mundo, uma ótica privilegiada.
Com este desertificar tropical, sinto algo a desaparecer da mesmice, enquanto envelheço na cidade – num processo esperançadamente irreversível de coisas novas, digo coisas que nos alimentam, além do feijão com arroz. Vamos embora pra Catende, Dalmar?
Lá do fim da rua, outro rapaz, diz: “Mamis, a gente a gosta dessa obra, né? E a mãe (e só elas são felizes), responde numa delicadeza admirável, que sim, eles gostam daquela obra.
Voltemos ao sertão, onde eu e Dalmar nascemos – admirável mesmo foi a cena dele entregando um livro a professora “Quem Almoçou com Abraão”, de Asher Intrater. Isso existe, professora Z? Claro, imensamente alojado no coração ateu de quem conhece Zeus e suas amantes.
De repente, um repentista. Você está andando na rua e uma pessoa no rastejo do salão coletivo, olha para mim e dá bom dia. Só falta perguntar: “tudo bem?’ Há uma necessidade doutrinária nesses cumprimentos. Dalmar disse que não tem religião, mas acredita em Deus.
O encantador rapaz D, disse que o sapato xadrex era meu. Sem interagir, meus pés aceitaram, mas não aceitei. Não teve jeito, o sapato hoje mora comigo, e passei para outra pessoa, outro sapato, dessa vez, preto no branco. Tem que ser assim, né?
Em poucos seres ou não seres há um clima de reflexos condicionados. Não deixo a sala de aula nem no Trem das Onze, de Adoniran Barbosa.
Mudando de assunto, uma bela moça, disse nesse mês de abril, que chorou quando fez 60 anos. Idade não é problema a ser resolvido, idade é moto-perpetuo (foto), a beleza da mulher (GP) já é um milagre definitivo e ainda bem que elas não calçam quarenta.
Vamos abrir a porta da delicadeza, o impacto dessa raridade que mexe com as mulheres e suas idades, mas nós homens, que calçamos 40, ainda parecemos os mesmos.
E o funaré? Há, deixa que eu vou ali falar com o doutor cardiopata.
Kapetadas
1- Acordado por livre e espontânea necessidade de pagar boletos. Putz!
2 – Eu canto: Nuvens, nuvens, eu já escuto os teus sinais.
3 – Comer direito: para os abastados, é ter modos à mesa; para os famintos, seria ter três refeições ao dia.
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OPINIÃO - 22/11/2024