João Pessoa, 30 de abril de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Todo mundo tem um segredo. Um ou 2, ( vários) e o segredo não abre portas, que não seja a porta da rua, mas quando é segredo, é segredo e só cala enquanto não é revelado. Dependendo do segredo, o barulho do outro lado é um estrondo.
A pessoa diz, vou te contar um segredo. Ai já não é mais segredo, saiu da parede, se espalha, é um disse-me-disse, qualquer coisa que denuncie a existência desse segredo, ai sim ele perde a razão de ser para bater noutras portas, aquelas de bocas escancaradas, sabe?
Nem tudo se conta, sequer a pessoa mais confiante, ela sempre dirá a outra e o segredo não é mais segredo. Segredo deixa de ser das quatro paredes, quando se bem lembras, a porta deixa de ser uma porta, para viajar de boca em boca. É cruel, mas a culpa não é do segredo, que não tem a certeza ser segredo, só enquanto está guardado, aquilo que a ninguém deve revelar: o que é secreto, sigiloso, deixa quieto.
O segredo entra, sai, tem outros acessos, surta, não tem solução, nem expediente.
Quando é segredo, quando se tem coisas para guardar, onde há uma porta, o segredo se manda.
Digo isso porque o segredo deveria ser uma metáfora, uma forma de interpretação, mas não, o segredo é a coisa mais nossa, enquanto não se diz, ele é sagrado. E não adianta dizer: você guarda segredo? Não, ninguém guarda.
O segredo do outro, não é o seu segredo, mas se estica, alça voo, porque segredo não se diz, não deixe ele sair pela porta da frente, quando não há sinal de vida.
Já perguntastes quantas vezes a tanta gente se ela guarda um segredo? Ela vai responder que sim. Não guarda, explode, a necessidade de espalhar está bem no pé do ouvido, mas ai, é o melhor segredo, que seja o do liquidificador da canção do Cazuza. (foto)
Naquele momento, tudo está certo como dois e dois são 4, mas esse segredo que se diz sussurrando é outra onda. Segredo não fala pelos cotoveles, jamais. Segredo não é a certeza da questão de entendimento, ele é a razão para o escape, dentre todas as portas, abertas ou fechadas.
Sim, segredos tão tem nada a ver com o que fazemos entre as paredes, falamos, gememos e não diz respeito a ninguém.
Uma pessoa secreta, reservada, na dela, sabe que não devemos falar demais, até porque quando falamos muito, não escutamos o outro. Meu pai dizia – ou confia ou não confia, mas isso não tem nada a ver com segredos.
Pronto. Como sabemos, a culpa não é do segredo. Sabemos? Sim. É de quem conta o segredo, não exatamente de quem espalha, mas de quem conta.
Não é possível viver nas redes sociais com tantos segredos estampados, gente hipócrita que espalha suas lamúrias, dançando na boquinha da garrafa, fazendo cenas íntimas e, em larga curtição faz dos seus segredos, seus medos, suas agonias, todos os dias.
Quando você ver uma pessoa escrever nas redes, “que Deus me livre dos falsos, da maldade”, ela está relevando seu segredo, sua falsidade, seu vultoso perfil.
Já pensou em engarrafar o segredo, jogar no mar, deixar que a garrafa se vá, que será lido por quem não entenderá. Esquece. Algo nos salva, quando não batemos com a língua nos dentes.
Ás vezes a gente diz, que tal pessoa nos traiu. A culpa é nossa, abrimos brechas, contamos a ela nossos segredos.
Kapetadas
1 – Muitos famintos, inquilinos de Jesus, nos cruzamentos com placas pedindo comida. Não é segredo. Mas abre o sinal e a maioria dos pedidos não emplaca.
2 – Fome – a única coisa que não dá pra empurrar com a barriga e não é segredo.
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OPINIÃO - 22/11/2024