João Pessoa, 04 de maio de 2023 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Estamos sempre caminhando rumo ao aprimoramento, faz parte da evolução da raça humana. Nós mesmos, com nossa individualidade, mudamos nossas prioridades praticamente a cada
década. Aos dez, vinte, trinta, quarenta, cinquenta, e por aí vai, vamos deixando de gostar de alguma coisa para dar lugar a outra, seja no campo da música, da literatura, da contemplação e até dos relacionamentos com as demais pessoas.
Não tem sido diferente com as conquistas dos direitos fundamentais; a convivência que precisa ser harmoniosa com a diversidade; as minorias buscando seu lugar de fala e impetrando
visibilidade. Por outro lado, o politicamente correto, exigido de forma exacerbada por algumas pessoas, tem afastado uma postura genuína do povo brasileiro, qual seja, o comportamento anedótico, a fina ironia, mesmo diante de situações supostamente sisudas. Não se está tolerando piadas sobre praticamente nada que diga respeito à obesidade, aparência física, falta de inteligência, sexualidade, religião, cor da pele ou calvície (exceção para mim, que sou careca, faço piadas com minha ausência de cabelos e permito que façam, e riu muito de todas elas, respondendo que nunca vi um careca pedindo esmolas).
Grupos de whatsapp tem se mostrado um campo fértil para insatisfação, intolerância, fim de amizades e agressões gratuitas, oriundas sobre qualquer opinião, ou mesmo piadinha, por mais inocente que seja, que contrarie entendimento de algum integrante, tachado pejorativamente de comportamento mi mi mi.
Ainda bem que minha mãe morreu antes da invenção das redes sociais. Pessoa prestativa, alegre, daquele tipo que perdia o amigo, mas não perdia a piada. Trabalhou com muita gente
importante do Poder Judiciário paraibano. Lembro que ela guardava uma foto, tirada no Tribunal de Justiça, na qual eram retratados juízes, desembargadores, advogados e serventuários da justiça. Vi que algumas dessas pessoas tinham, sobre sua face, uma cruz feita a lápis. Curioso, perguntei o que significava aquilo. Ela respondeu: quem vai morrendo, eu marco aqui na foto. E brinquei: e quando chegar sua vez? Ela: você risca a minha cara. Curioso é que todos morreram e ela foi a última, partindo aos 89 anos.
Fiz o que me coube. Desenhei uma cruz sobre aquele rosto sorridente, dentre outros que o rodeava sisudos, tristes e até deprimidos. Detalhe: minha mãe não foi ao sepultamento de nenhuma
daquelas pessoas da foto. Por que, mãe? Porque eu faria piada no velório e nenhum deles iria ao meu enterro. Não sei se ela gostaria de fazer parte destes tempos modernos.
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